princípio de causalidade

O princípio (metafísico) de causalidade é um dos mais importantes princípios do conhecimento (princípios do conhecimento). Reveste-se de capital importância sobretudo na demonstração da existência de Deus (prova da existência de Deus) — Formulação do princípio de causalidade: a fórmulanãoefeito sem causa” é inadequada, por ser tautológica. Também a fórmula “tudo o que começa a ser, tem uma causa” é, para nós, em muitos casos, inutilizável, porque o começo temporal de muitas coisas — especialmente do universo como um todo — dificilmente pode ser demonstrado com certeza por parte das ciências experimentais. Pelo que, é preferível a fórmulatodo ente contingente é causado” (contingência). “Ente’’ deve aqui entender-se como “realmente existente”; “causado” significa mais exatamente originado, produzido por uma causa eficiente (VIDE causa). Portanto, o princípio diz que um ente, indiferente por sua essência para ser ou não ser, é um ente dependente; que tal ente deve seu ser à ação de outro — precisamente da causa —; que, por conseguinte, é “feito”. A causa pode ser considerada como causa suficiente só no caso em que possua uma perfeição ontológica pelo menos igual à do efeito que por ela deve ser explicado.

O valor do princípio de causalidade deriva a priori os conceitos essenciais de contingente e de causado. A essência contingente exprime por si apenas a possibilidade (potência), não a realidade (o ato) de existir; portanto, é absolutamente incapaz de contribuir por si nalguma coisa para sua própria realização, necessitando por isso do auxílio de outro que, por sua parte, exista realmente, e independentemente deste contingente, e que, mediante sua ação, seja para ele causa do ser. — No que tange à peculiaridade lógica do princípio de causalidade, muito discutida, tem sido a questão de saber se ele é um princípioanalítico” ou “sintético” (princípios do conhecimento). Os defensores de seu caráter analítico pretendem muitas vezes dizer apenas que ele estriba numa inteleção apriórica resultante da comparação dos conceitos e que, por conseguinte, enuncia uma necessidade essencial incondicionada. Ambas as afirmações são exatas. Mas, se devem chamar-se analíticos apenas aqueles juízos em que o predicado apresenta uma parte do conteúdo do conceito do sujeito, em tal caso o princípio de causalidade não pode ser chamado analítico, porque o ser causado não é co-pensado (nem está incluído) no conceito de contingente; portanto, neste sentido, o princípio de causalidade é “sintético a priori”. Pelo que nem por uma demonstração indireta pode ser reduzido ao princípio de contradição, se for posta a exigência de que a redução só deve ser feita mediante a análise dos conceitos. Sobre a relação do princípio de causalidade com o de razão suficiente (princípio da razão suficiente).

Um caso particular do princípio de causalidade é o chamado princípio de movimento, eme remonta a Aristóteles: tudo o que se move (= se muda ou modifica) é movido (modificado) por outro (Quid quid movetur, ab alio movetur). Neste princípio exige-se uma causa para a mudança — para a modificação ou variação em ordem a uma maior plenitude do ser, em ordem à perfeição (trânsito da potência ao ato), e diz-se, além disso, que dita causa — ao menos parcialmente — deve ser buscada noutro ente diferente daquele que muda, e que, por conseguinte, este não se basta a si mesmo para desdobrar suas disposições. A razão disso é que o inferior em perfeição ontológica, inferioridade implicada inicialmente no ente submetido à mudança, não é causa suficiente para produzir o que tenha perfeição ontológica superior. — Distinta do princípio metafísico de causalidade é a lei física de causalidade (lei de causalidade), a qual se circunscreve aos processos do mundo corpóreo e exige para a natural explicação dos mesmos uma causa que produza com necessidade física o processo em questão. Da consideração exclusiva desta causalidade natural deduz-se que a expressãoprocesso causal” muitas vezes é sinônima de “processo necessário”. O princípio metafísico de causalidade, pelo contrário, deixa em aberto a possibilidade de uma causa que atue com liberdade. — De Vries. [Brugger]