primeira operação do espírito

VIDE operações do espírito

Vimos que a primeira operação do espírito tem como objeto a essência das coisas, quidditas, que ela abstrai dos dados sensíveis e que ela percebe em seguida como “universal”, relacionando-a com os sujeitos aos quais ela pode ser atribuída. Considerada no conjunto da vida do espírito, essa operação representa um duplo papel.

Por sua natureza, ela é o ato pelo qual o espírito percebe a essência das coisas, assimila essa essência, sendo que cada essência lhe aparece manifesta em si própria e distinta das demais essências. Mas, como nossa potência de abstração é por demais fraca para que possamos atingir a esse resultado de um só lance, temos de tentar alcançá-lo, caminhando progressivamente, por etapas. O ponto de partida dessa marcha é a apreensão confusa dos dados da experiência. Seu discernimento e ordenação se fará em seguida, graças a um duplo processo: inicialmente, por divisão, que é o meio próprio e adaptado a essa tarefa; e se a divisão se revela impotente para esclarecer o complexo primitivo, lançamos mão do método de coleção. Isto é, parte-se dos dados mais particulares e procura-se discernir o que eles têm entre si de comum e de diferente. Ao nível da primeira operação do espírito, esses métodos correspondem aos dois processos essenciais do raciocínio: dedução e indução. A meta ideal dessa marcha do espírito na análise do dado é a definição, ponto culminante da primeira operação. Pela definição, as essências se tornam manifestas ao espírito e se veem, ao mesmo tempo, colocadas em seu lugar na classificação geral dos gêneros e das espécies. As definições autênticas, pelo gênero e diferença específica, são, já o dissemos, dificilmente alcançadas. Apesar disso, o processo que elas desencadeiam permanece inteiramente característico da atividade de simples apreensão.

Existe, portanto, uma atividade original de simples apreensão que tem valor por si própria. Mas essa atividade ainda não dá um conhecimento acabado das coisas, a quididade que ela atinge diretamente, ainda abstrai da existência, ou da realidade concreta. É necessário, portanto, que uma segunda operação do espírito intervenha, tomando dessa vez como objeto esse aspecto de existência: ipsum esse. Face a essa segunda atividade do espírito, a simples apreensão representa o papel de operação preliminar. Ela constitui os termos que serão associados ou dissociados pelos julgamentos: antes de tudo os predicados, pois a propriedade do universal é precisamente sua aptidão a ser predicado; e, subsidiariamente os sujeitos, pois os termos universais, comparados aos que lhes são superiores, podem ter a função de sujeitos.

Essa maneira de encarar a primeira operação do espírito como preparatória à segunda e sendo perfectiva do conhecimento, é certamente legítima.

Mesmo assim não se deve esquecer que a simples apreensão é uma atividade do pensamento que atinge, na ordem da percepção da essência, a um certo resultado absoluto, ao qual nada se tem a acrescentar. [Gardeil]