Este vocábulo, tendo em conta sua etimologia, designa algo que se dá por previamente assente. Daí que, em sentido estrito (pressuposição lógica), signifique uma proposição que se emprega como base (premissa) numa argumentação, sem que, ao menos de momento, se lhe dê fundamentação especial. Contudo, o termo “pressuposição” é tomado frequentemente em sentido muito lato; assim recebe este nome qualquer convicção, atitude espiritual ou psíquica, inclusive qualquer situação exterior que influa histórica e psicologicamente na produção de novas ideias, convicções e movimentos espirituais; o novo nunca surge, por assim dizer, no vácuo, como começo absoluto.
Conforme ao que fica exposto, a exigência de “abster-se de pressuposições”, de uma “ciência sem pressuposições”, pode revestir dois sentidos. Em sentido estrito, significa que a ciência deve fundamentar todos os seus assertos, que nada deve admitir sem exame; o que não implica que precise de “demonstrar” todas as proposições (princípio de razão suficiente). Mas a exigência de abstenção de pressuposições no sentido do ideal liberal da ciência entendia o termo de outra maneira: a ciência, dizia-se, não pode deixar-se influenciar por nenhuma espécie de consideração que não seja de ordem puramente cognitiva, sobretudo não pode deixar-se influenciar pela fé religiosa. Esta concepção baseia-se numa valorização unilateral das atividades de pensar e de investigar por si mesmas (racionalismo); não repara que a ciência só pode ser fecunda, se se mantiver cônscia do seu caráter de membro e de sua posição de serva no complexo da vida humana, orientada, em última instância, para fins eternos. Hoje existe, antes, o perigo de que, sob a influência da filosofia irracionalista da vida (filosofia da vida) e do pragmatismo, se passe por alto o desejo justificado, implícito na exigência de abstenção de pressuposições. Sem dúvida, pode o homem, em suas decisões de importância vital, não aguardar que a ciência lhe ofereça certeza reflexa sobre todas as coisas, senão que deve apoiar-se sempre em certezas naturais, pré-científicas; mas também estas não devem ser cegas. Com dobrada razão, a genuína ciência, se não quer ser vítima do relativismo, não pode edificar sobre alicerces puramente sentimentais, mas deve exigir sua fundamentação e que esta, em última instância, se encontre nas próprias coisas. Evidentemente, a ciência particular não pode prescindir de pressuposições lógicas. A prova das bases últimas de toda ciência compete à filosofia, principalmente à metafísica ou à epistemologia (teoria do conhecimento). Só a filosofia pode realmente proceder sem pressuposições lógicas. Não obstante, recomenda-se com frequência, por motivos de método, que se limite, quanto possível, o número das pressuposições, inclusive nas pesquisas particulares. — De Vries. [Brugger]