predestinação

(lat. Praedestinatia; in. Predestination; fr. Prédestination; al. Prädestination; it. Predestinazioné).

Na teologia cristã, é a escolha que Deus faz dos eleitos, daqueles que se salvarão: segundo S. Agostinho, foi feita antes da criação do mundo (De praedestinatione, 10). Para os problemas relativos a ela, v. graça. A P. é sempre P. à salvação, mas às vezes também foi defendida (e condenada pela Igreja) a P. dupla, para a salvação e para a condenação. Esta doutrina foi defendida, p. ex., pelo monge Godescalco de Corbie e combatida por Hinkmar (sec. IX). Na era moderna, foi defendida pelos Calvinistas (v. preterição). (Abbagnano)


A doutrina segundo a qual todo indivíduo está destinado, desde o seu nascimento, a ser salvo ou danado. — A crença na predestinação conduz ao fatalismo. É contestada pela experiência humana da ação eficaz, em que o homem tem consciência de fazer algo novo através de um ato livre e, em consequência disso, imprevisível. É preciso não confundir a ideia de “predestinação”, que se aplica somente aos atos e acontecimentos humanos e se opõe à ideia de “liberdade”, com a ideia de “determinismo”, que se aplica apenas aos acontecimentos do mundo físico e contrapõe-se ao “indeterminismo”. (V. fatalismo, determinismo.) (Larousse)


Lato sensu, predestinação refere-se à ordenação de todos os acontecimentos por Deus, desde a eternidade. Teologicamente, com alguma autoridade bíblica, engloba o decreto divino de felicidade para os eleitos e a divina reprovação para os destinados ao Inferno. No âmbito do dogma católico, a graça é um requisito prévio da salvação, mas não é arbitrariamente concedida e tem que ser merecida. A predestinação para o Inferno deve-se a que Deus prevê o pecado, não o predetermina. A natureza exata da predestinação foi discutida por muitos autores medievais. A heresia do predestinarianismo surgiu no Ocidente, atribuindo a salvação e a reprovação somente à vontade de Deus, o que excluía a cooperação e o livre-arbítrio humanos. Assim, os réprobos são impelidos para o pecado e os eleitos para a retidão através do suprimento de graças eficazes que destroem seu livre-arbítrio. Os heréticos citaram Santo Agostinho, interpretando erroneamente suas ideias expressas no De Dono perseverantiae (possivelmente como refutação ao pelagianismo e ao semipelagianismo, que considerou as obras naturalmente boas do homem como a única determinante da predestinação). O anônimo Praedestinatus do século V foi provavelmente da autoria de um pelagiano, combatendo Agostinho ao atribuir-lhe falsamente parte da obra.

Em meados do século V surgiu um rígido predestinarianismo, defendido pelo sacerdote gaulês Lucidus, que se submeteu a Fausto de Riez e ao Concílio de Aries (c. 473). O conflito foi reatado no século IX, quando o predestinatário Gottschalk de Orbais foi refutado por Rábano Mauro (c. 840); Gottschalk foi forçado a retratar-se e aprisionado por ordem de Hincmar, arcebispo de Reims, no Sínodo de Quierzy (849). Uma nova refutação por João Escoto Erígena serviu meramente para intensificar a controvérsia; no reinado de Carlos, o Calvo, o Império Franco do Ocidente viu-se envolvido na disputa, até que a paz foi restabelecida pelo Sínodo de Toussy (860). Daí em diante, o ensino medieval concentrou-se no repúdio da reprovação para o Inferno e na afirmação da predestinação divina dos eleitos para o Céu e da cooperação do livre-arbítrio. Esse ensino foi temporariamente desafiado por Thomas Bradwardine (c. 1290-1349) e pelos precursores da Reforma (Wycliffe, Huss, Jerônimo de Praga e Johann Wessel). O predestinarianismo recebeu um vigoroso impulso na Reforma; a intransigente negação por Lutero do livre-arbítrio nos réprobos e do mérito, foi sistematizada por Calvino e modificada de várias maneiras. (DIM)