posição filosófica

Como em textos filosóficos não temos o recurso ao mundo empírico para resolver problemas, o intérprete não pode se eximir de basear seus critérios numa posição filosófica própria.

É possível assumir uma posição filosófica própria sem saber o que é uma posição filosófica como tal.

Temos condições para mostrar que é possível determinar o que constitui a posição filosófica e a partir dela definir o modo como se irão tratar textos de filosofia para avaliá-los.

Filosofia, dizia Hegel, é para o comum entendimento o mundo invertido. A Filosofia não é, portanto, o pensamento discursivo do mundo da empiria.

Com esta afirmação terminamos introduzindo um conjunto de distinções muito importantes.

1. Há uma diferença essencial entre o empírico e o filosófico.

2. A distinção implica em separarmos entre a atitude ingênua e objetivista e a atitude reflexiva e crítica.

3. Defendermos então que o pensamento filosófico nos leva a supor, em qualquer texto que tenha validade filosófica, uma estrutura que pode não estar explícita, mas ela se impõe como uma forma que sustenta a unidade do discurso e estabelece um limite para a linguagem.

4. Há, portanto, uma linguagem filosófica propriamente dita que é originada da posição filosófica.

5. A posição filosófica termina fazendo com que a linguagem filosófica e a abordagem dos temas adquiram uma autonomia do mundo da experiência empírica e assim não podem ser interpretados pela remissão a elementos empíricos. Nós somente compreendemos as expressões linguísticas pela sua explicitação. Isso significa em que a leitura irá recorrer, para a interpretação, aos recursos da analítica da linguagem, como a uma hermenêutica reduzida.

6. Mesmo que a hermenêutica ampla ou filosófica nos permita buscar o sentido de textos, ela não nos ajuda na determinação das relações entre os textos de vários autores. Ainda que nela apareça a dimensão filosófica da linguagem, ela tem mais como função desdobrar a historicidade do sentido. A hermenêutica filosófica não constitui uma posição filosófica, menos ainda a posição filosófica como tal. Para ser hermenêutica filosófica ela teve de renunciar ao caráter específico da transcendentalidade.

7. Com esta palavra chegamos ao elemento característico da posição filosófica, desde a modernidade: o transcendental. Não se trata mais de afirmar a solução kantiana da Filosofia como certa. Não podemos, contudo, eliminar da posição filosófica a herança kantiana do transcendental.

Esse, porém, agora livre do recurso às condições da experiência possível, subjetivamente necessárias, exerce, no entanto, a função de fixar os pontos de limite do conhecimento material e, ao mesmo tempo, ser o fundamento transcendental da experiência objetiva.

8. Esse transcendental que resulta da destranscendentalização kantiana nos deixa com a posição da Filosofia, ainda transcendental, mas reduzida.

9. Hoje a posição filosófica como tal liga-se ao transcendental a partir da linguagem, mas não mais como algo que se reduz à linguagem, apenas vista como semântica. Nesta área se apresentam muitos reducionismos. Como, porém, já foram superadas as posições que colocariam uma significação essencial que garantiria o fundamento da significabilidade da relação linguagemmundo, esta não deve ser procurada além da linguagem. A linguagem continua o essencial, mas agora concebida como lugar em que “aparece, na e com a linguagem, aquilo que, como excesso da relação linguagemmundo transcendendo o juízo, já sempre está aberto na linguagem, sem que enquanto tal excesso (Mehrbestand), possa ser identificado univocamente do ponto de vista lógico” (Glauner, E, 1998, p. 272, n. 4).

10. Se então distinguimos entre o empírico e o transcendental para dar ênfase ao que denominamos posição filosófica é porque, na função que o transcendental exerce após Kant na Filosofia, se preserva o lugar a partir do qual podemos ver criticamente os textos que se apresentam na Filosofia, sobretudo quando se trata de mais autores. Assim podemos avaliar os temas desses textos e as soluções que eles apresentam. A partir da posição filosófica temos então recursos para a crítica e para a real comparação da originalidade e da produtividade das posições filosóficas. [ErStein2008:295-297]