O pluralismo defende, ao contrário do monismo, que o mundo é composto de realidades independentes e mutuamente irredutíveis. A questão do pluralismo aparece depois de resolvida a questão prévia da natureza do universo; com efeito, reduzir o universo a uma realidade fundamental, trata-se de saber se esta é una ou múltipla, simples ou composta. A resposta que afirma a multiplicidade é um pluralismo. Este pode ser considerado de um ponto de vista numérico ou qualitativo, pois embora o pluralismo não prejulgue acerca da índole das realidades plurais afirmadas, parece estabelecer melhor certa diferenciação qualitativa. Dá-se o nome de pluralistas a uma série de filósofos pré-socráticos e, em particular, a Empédocles e Demócrito. Todos afirmam que há um certo número de elementos ou substâncias que compõem a natureza e que se combinam entre si. O pluralismo procurou fazer frente ao problema de “o que há” levantado por Heráclito e Parmênides. Com efeito, dizer, com o primeiro, “tudo se move” equivale a afirmar que o movimento é o real, mas então não parece haver sujeito no movimento. Por outro lado, dizer que o ser é, que é imutável, que é eterno, etc, à maneira de Parmênides, é negar o movimento. Mas se se toma o ser de Parmênides e se se admite o movimento de Heráclito, então é necessário dividir esse ser em certo número de seres, substâncias ou elementos e defender que o movimento o é de alguns elementos relativamente a outros. O caso mais evidente é o de Demócrito: cada átomo pode ser considerado como a concepção de Parmênides, porquanto é sempre aquilo que é e não outra coisa, mas as deslocações dos átomos sobre o fundo do espaço permitem compreender o movimento local e as combinações com as quais se formam os diversos corpos.
Deste modo, o atomismo filosófico, em geral, é um compromisso entre o uno e o múltiplo. A filosofia monadológica de Leibniz é por um sentido pluralismo. Na época contemporânea, destaca-se o pluralismo de William James. Este pluralismo baseia- se na ideia de uma liberdade interna e procura superar as dificuldades em que se enreda o monismo, quando não dá conta da existência da existência finita, quando elabora o problema do mal ou quando contradiz o caráter da realidade como algo experimentado perceptivamente. Segundo William James, o pluralismo supera estas dificuldades e oferece algumas vantagens. O seu caráter mais científico, a sua maior concordância com as possibilidades expressivas morais e gramáticas da vida, o seu apoio no fato mais insignificante que mostre alguma pluralidade. [Ferrater]
(in. Pluralism; fr. Pluralisme; al. Pluralismus; it. Pluralismo).
1. A partir de Wolff, este termo foi contraposto a egoísmo como “a maneira de pensar em virtude da qual não se abarca o mundo no eu, mas nos consideramos e nos comportamos apenas como cidadãos do mundo” (Kant, Antr., I, § 2). Mas enquanto o termo egoísmo continuou designando uma atitude moral, visto que, para a doutrina metafísica correspondente, prevaleceu solipsismo ao termo pluralismo, no uso que dele se fez em seguida, assumiu um significado metafísico, passando a designar a doutrina que admite pluralidade de substâncias no mundo. A expressão típica dessa doutrina é a monadologia de Leibniz, e foi neste sentido que o termo voltou a ser usado por alguns espiritualistas modernos (J. Ward, The Realm of Ends or Pluralism and Theism, 1912; W. James, A Pluralistic Universe, 1909). James insistiu particularmente na exigência proposta pelo pluralismo: a de não considerar o universo como massa compacta, em que tudo está determinado no bem ou no mal e não há lugar para a liberdade, mas sim como uma espécie de república federativa na qual os indivíduos, apesar de solidários entre si, conservem autonomia e liberdade. O universo pluralista, segundo James, é um pluriverso ou multiverso, sua unidade não é a implicação universal ou integração absoluta, mas continuidade, contiguidade e concatenação: é uma unidade de tipo sinequia, no sentido atribuído a esta palavra por Peirce (A Pluralistic Universe, p. 325). Um universo assim distingue-se do universo monadológico de Leibniz justamente pelo caráter não absoluto nem necessitante da unidade que o constitui. Até mesmo Deus, no universo pluralista, é finito.
2. Na terminologia contemporânea, designa-se frequentemente com este nome o reconhecimento da possibilidade de soluções diferentes para um mesmo problema, ou de interpretações diferentes para a mesma realidade ou conceito, ou de uma diversidade de fatores, situações ou evoluções no mesmo campo. Assim, fala-se em “pluralismo estético” quando se admite que uma obra de arte pode ser considerada “bela” por motivos diferentes, que nada têm a ver um com o outro; fala-se em pluralismo sociológico quando se admite ou se reconhece a ação de vários grupos sociais relativamente independentes uns dos outros. [Abbagnano]