Considera-se que foi Pirro de Eleia (369-270) o fundador do ceticismo. Dizia ele que ante dois juízos contraditórios, tanto um é verdadeiro como o outro. Recomendava por isso a epoche.
É verdade que antes de Pirro já se verificava no mundo helênico afirmativas cépticas. Encontramos em Heráclito e Parmênides fragmentos em que nos afirmam os limites do conhecimento sensível. Entre os sofistas, surge a dúvida quanto ao valor do conhecimento intelectual e basta reproduzamos estas palavras de Protágoras : “Tudo o que as coisas me parecem, elas o são para mim; tudo o que elas te parecem, o são para ti.”
Mas Pirro constrói um ceticismo universal. “Nós não nos devemos ficar nem nos sentidos nem na razão, mas permanecer sem opinião, sem inclinarmo-nos nem de um lado nem de outro, impassíveis. Qualquer que seja a coisa de que se trate, diremos que não se deve nem afirmá-la nem negá-la, ou melhor : que se deve afirmá-la e negá-la simultaneamente, ou ainda: nem se deve afirmá-la nem negá-la. Se estamos nestas disposições, atingiremos desde logo a aphasia (em nossa língua silêncio), depois a ataraxia” (ausência de perturbação), dizia Timon, discípulo de Pirro.
Foi o ceticismo universal, que é o ceticismo clássico, continuado por Enesidemo e Sexto Empírico, cujos tropos tivemos ocasião de examinar em “Filosofia e Cosmovisão”, para onde remetemos o leitor, pois, aí, coligimos todos os argumentos clássicos dos céticos pirrônicos. [MFS]
Pirro (c.365-275 a.C.) O filósofo grego Pirro de Elida foi o fundador do “ceticismo propriamente dito. Sua doutrina, eminentemente prática, pode se resumir nas seguintes proposições: a) sobre todas as coisas, devemos suspender nosso juízo, nada devemos afirmar ou negar (é a dúvida universal dos sofistas); b) tudo o que se apresenta como verdade não passa de hábito e convenção; c) precisamos distinguir entre os fenômenos e as causas incognoscíveis: é indiscutível que sinto o gosto do mel, mas não posso apreender a relação entre minha sensação e a natureza do mel; d) consequência prática: a indiferença absoluta em relação a tudo, uma vez que nada é bom ou mau em si, não há lugar para preferir uma coisa à outra; tudo é indiferente, eis o segredo da felicidade. [DBF]