(lat. Peccatum; in. Sin; fr. Péché; al. Sünde; it. Peccató).
Transgressão intencional de um mandamento divino. Esse termo tem conotação sobretudo religiosa: pecado não é a transgressão de uma norma moral ou jurídica, mas a transgressão de uma norma considerada imposta ou estabelecida pela divindade. O reconhecimento do caráter divino de uma norma e a intenção de transgredi-la são os dois elementos desse conceito, sem os quais se confunde com os conceitos de culpa, delito, erro, crime, etc, que designam a transgressão de uma norma moral ou jurídica.
O conceito de pecado foi elaborado pela teologia cristã nesses termos. S. Agostinho definia o pecado como “o que é dito, feito ou desejado contra a lei eterna”, entendendo por lei eterna a vontade divina cujo fim é conservar a ordem no mundo e fazer o homem desejar cada vez mais o bem maior e cada vez menos o bem menor (Contra Faustum, XXII, 27). Tomás de Aquino certamente aceitava essa definição ao dizer que para o homem a lei eterna é dúplice: “Uma é próxima e homogênea, é a própria razão humana; a outra é a regra primeira, a lei eterna que é quase a razão de Deus” (S. Th., II, 1, q. 71, a. 6). Tomás de Aquino insiste, de um lado, na voluntariedade (intencionalidade) do pecado, em virtude da qual se poderia definir o pecado unicamente mediante a vontade, não fosse o fato de os atos externos também pertencerem ao pecado e por isso deverem ser mencionados em sua definição (Ibid, ad. 2)). Por outro lado, insiste em dizer que todo pecado é, como tal, um pecado contra Deus, embora os pecado contra Deus constituam, de outro ponto de vista, uma categoria especial (S. Th., II, 2, q. 72, a. 4, ad 1a).
Pode-se dizer que esse conceito de pecado não se alterou através dos tempos. Kant repete-o ao definir o pecado como “a transgressão da lei moral vista como mandamento divino” (Religion, I, seç. IV; II, seç. 1, c; trad. it., Durante, pp. 31, 68); o mesmo faz Kierkegaard, ao afirmar que o pecado é perante Deus, e que consiste em “buscar desesperadamente a identidade ou em fugir desesperadamente à identidade”, o que significa que consiste no desespero de não ter fé (Die Krankbeit zum Tode, II, cap. 1o trad. it., Fabro, p. 300). O que Kierkegaard acrescenta é o caráter excepcional do pecado, que corresponde ao caráter excepcional da fé. O pecado não é de todos os dias: “Ser pecador, no sentido mais rigoroso, está bem longe de ser meritório. No entanto, como se pode achar uma consciência essencial do pecado (o que aliás é indispensável para o Cristianismo) numa vida tão mergulhada na trivialidade, tão reduzida à imitação vulgar dos outros, que é quase impossível dar-lhe nome, pois é desprovida demais de espírito para poder ser chamada de pecado?” (lbid, II, B, Acréscimo A; trad. it., p. 328). [ABbagnano]
O que se denomina “pecado original” acusa um erro, uma falha, originária (mas não original), que não só inicia a ilusão de uma separação do divino, mas uma constituição simultânea do mundo, em que prevalece a dualidade homem-mundo. Os corpos são reconhecidos como sedes do humano ser; a multiplicidade “enche os olhos corporais”; o erro se consolida a ponto de se considerar um pecado que a humanidade doravante carrega para sempre. Somente o exame da separação, do simbolismo em Gênesis 2 e 3, pode oferecer algumas indicações da direção considerada no tocante à questão do chamado “pecado original”.
René Guénon
Visto deste ângulo, o pecado de Adão consistiu em açambarcar o gozo: atribuir a si mesmo o gozo como tal, embora o erro estivesse a um só tempo no roubo e na maneira de encarar o objeto do roubo, ou seja, um prazer substancialmente divino. Portanto, era usurpar o lugar de Deus, excluindo-se da subjetividade divina da qual o homem participava na origem; era não mais participar desta e se fazer a si mesmo sujeito absoluto. Fazendo-se praticamente Deus, o sujeito humano limitou e aviltou a um só tempo o objeto da sua felicidade e até todo o ambiente cósmico (v. separação).
Jean-Claude Larchet: TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS ESPIRITUAIS
Por el pecado original, Adán se desvió del camino donde Dios lo había ubicado en su creación. El hombre erró el fin que su misma naturaleza le asignaba. Habiendo dejado de tender con todo su ser hacia Dios y de abrir todas sus facultades a la gracia increada de Dios, el espejo de su alma se oscureció y dejó de reflejar a su Creador. Porque Adán dejó de participar de la Fuente de toda perfección, sus virtudes se opacaron y perdió la semejanza con Dios que había comenzado a realizar desde el momento de su creación. La imagen de Dios — que no puede perderse del todo — subsiste en el hombre caído (Orígenes) pero al no haberse desarrollado por la unión activa del hombre con Dios, no encontrando ya su cumplimiento en la realización de la semejanza que constituía su finalidad verdadera, se encuentra alterada (Gregório de Nazianzo) y velada (Macariana). Mientras que el camino del hombre hacia su perfección en la luz del Espíritu la volvía radiante, de pronto el pecado la oscureció. El hombre olvida entonces cuál es su naturaleza auténtica, ignora su verdadero destino, ya no sabe cuál es su verdadera vida y pierde casi toda noción de su salud original.
Aunque la humanidad haya podido luego, por las voces inspiradas de los profetas, reencontrar en cierta medida el sentido de Dios, no alcanzó «más que la sombra de los bienes venideros, no la substancia misma de las realidades» (Hch 10,1).
Sólo por la Encarnación de Cristo la humanidad es restaurada plenamente en su naturaleza original, y el hombre reencuentra la posibilidad de realizar la perfección a la cual el Creador lo ha destinado.
Há pessoas que se atormentam por faltas mesmo leves que cometeram num passado até distante, enquanto que no presente fazem o que agrada a Deus. Pois bem, é uma falta jogar-se na cara o que Deus não nos joga na cara.
Deus não nos joga na cara um pecado do que temos plenamente consciência e que temos a intenção sincera de não voltar a cometer, se ao mesmo tempo praticamos o que Ele exige e o que nos aproxima dEle.
Além do mais, Deus não nos pede abstratamente que sejamos perfeitos, porém nos pede concretamente que não tenhamos um determinado defeito e que não cometamos um determinado pecado ou uma determinada necessidade.
Por outro lado, não há que se perguntar se Deus exige de nós isto ou aquilo; se cumprimos o que Deus nos pede certamente – a saber, a oração, as virtudes elementares e as atitude razoáveis – saberemos ipso facto o que Ele nos pede eventualmente e por acréscimo.
Deus nos pede o que ignoramos, como tampouco nos joga na cara o que já no existe. (Schuon PP)