palavras

A tradução literal das últimas linhas de Antígona (1350-54) é a seguinte: “Mas as grandes palavras, neutralizando [ou revidando] os grandes golpes dos soberbos, ensinam a compreensão na velhice.” O conteúdo dessas linhas é tão enigmático para a compreensão moderna que raramente se encontra um tradutor que ouse dar a elas seu sentido estrito. Uma exceção é a tradução de Hölderlin: “Grosse Blicke aber, / Grosse Streiche der hohen Schultern / Vergeltend, / Sie haben im Alter gelehrt, zu denken.” Uma anedota contada por Plutarco ilustra, em um nível muito menos elevado, a ligação entre agir e falar. Certa vez, um homem aproximou-se de Demóstenes e disse o quanto foi violentamente espancado. “Mas”, disse Demóstenes, “não sofreste nada do que estás me dizendo”. O outro levantou a voz em seguida e exclamou: “Eu não sofri nada?” “Agora”, disse Demóstenes, “escuto a voz de quem foi ofendido e sofreu” (Vidas, “Demóstenes”). Um último vestígio dessa antiga conexão entre o discurso e o pensamento, ausente em nossa noção de exprimir o pensamento por meio de palavras, pode ser encontrado na popular frase de Cícero: ratio et oratio. [ArendtCH, C 4, nota]