Na Origem mítica está virtualmente todo o destino do ente e todas as oportunidades historiáveis se inscrevem no céu da Forma inicial. Inclusive o que parece contestar essa pertinência, como, por exemplo, a possibilidade de uma versão material e ateística da vida, é ainda emergente desse nó prototípico. O desvelamento de um quadro positivo ou físico do Universo ocorreu, entre nós, nos recintos de uma abertura cristã ocidental e constitui uma componente essencial de seu modo de Ser. Seria impossível desenvolver a temática cristã sem a díade pessoa-coisa, sendo a coisa igual ao quadro físico do Universo, fato contemporâneo à interiorização do sentimento do divino. Com isso, vemos como as representações aparentemente mais distantes da Fonte prototípica (no caso, a imagem positiva do real), nela se re-incorporam.
Os Deuses ou o Deus prevalecem sobre todo o gestado, pois o que mantém e sustenta o manifestado manifesto é justamente o assédio de sua dominação. Por isso os Deuses são origens, mas origens que estão no começo, no meio e no fim. Origens que mantêm em si o Originado. Um saber do originado, um saber do disponível do ente, representa um saber insistencial. É o que [133] Heidegger denominou a Seinsvergessenheit, o esquecimento do Ser, dominante em toda a história do pensamento ocidental. A superação ou não-saber desse saber olvidante, desse saber do ente, viria a constituir o saber original ou a Origem como o saber de todo o sabido. Toda a filigrana das possibilidades ônticas promanam de uma fascinação instauradora, a partir do universo prototípico-divino, ou, em outras palavras, todas as formas de atuação de uma cultura são dedutíveis da dominação mítica imperante. O manifestado ingressa no poder manifestante, nele submerge como um de seus aspectos transitivos. A intransitividade do Mito em relação à transitividade do que é por ele sugerido constitui a característica de um saber fundante. O fundado é superado pelo fundamento e nele submerge, sendo o fundamento um poder diluvial do fundado. A Fonte fundante manifesta-se como uma origem eterna de toda a prosopopeia intramundana. [VFSTM:133-134]