orgânico

(in. Organic; fr. Organique, al. Organisch; it. Orgânico).

Que é um organismo ou pertence ao organismo. Além dos significados relativos a esse termo, o adjetivo foi e é às vezes empregado para indicar a subordinação das partes ao todo que se considera típica do organismo. Assim, Saint-Simon e Comte empregaram o adjetivo orgânico para indicar as épocas em que todas as manifestações da vida estão subordinadas a um único princípio, como aconteceu, p. ex., na Idade Média em relação ao princípio teológico (v. crise). [Abbagnano]


Desde meados do século dezoito, houve tendência a usar orgânico como adjectivo que qualifica certos corpos: os corpos biológicos ou organismos. Tornou-se cada vez mais comum contrapor o orgânico ao mecânico. A ideia que subjaz nessa contraposição é a de que o organismo não é redutível a uma máquina, mesmo quando, desde o momento em que se quis estabelecer em que consistem as diferenças entre o orgânico e o mecânico, nem sempre foi fácil destacar propriedades que correspondam exclusivamente a um deles. Assim, por exemplo, disse-se que o orgânico se carateriza pela funcionalidade, a qual também pode ser caraterística de mecânico, enquanto uma máquina inclui também uma determinada série de funções. Por isso teve que se especificar em que consistem essas propriedades ou caraterísticas tais como a totalidade (o ser um todo distinto da soma de partes), o caráter finalista ou teleológico, etc. A estas propriedades ou caraterísticas juntaram-se todas as outras, como a espontaneidade, a adaptabilidade e, em geral, propriedades que se designam pela anteposição da expressão auto, a qual tende a indicar que o orgânico se carateriza por se mover a si próprio.

Se considerarmos não os termos usados, mas os conceitos podemos dizer que a contraposição do orgânico ao mecânico é muito antiga, como também as tendências para sublinhar o primeiro perante o segundo. Mas nem todos os autores entenderam o orgânico e os organismos do mesmo modo. Todos os que falam do orgânico como algo distinto do mecânico, ou inclusive prévio ao mecânico, concordam em que não há organismo se este não for um todo que possua em si mesmo algum princípio. Mas o modo de interpretar este princípio é muito diferente, desde aqueles que consideram que é um princípio distinto de qualquer das partes do organismo até aos que manifestam que é um modo de enlace das próprias partes. As diferenças de opinião relativas a isso são por vezes tão fundamentais que não parece que se trate da mesma realidade. Enquanto certos autores entendem o orgânico como primariamente, ou exclusivamente, biológico, outros entendem-no como primeiramente ou exclusivamente, psíquico.

Para já, podem agrupar-se essas opiniões em duas grandes tendências: mecanicismo e anti-mecanicismo. O primeiro esforça-se por reduzir o orgânico ao mecânico, quer de um modo definitivo, quer num dado estado do conhecimento dos organismos. O anti-mecanicismo nega-se a reduzir o orgânico ao mecânico, mas dentro desta comum tendência negativa manifesta-se positivamente em várias correntes. As principais são: o vitalismo extremo (que explica, ou tenta explicar, o inorgânico à base do orgânico e, em geral, do inerte à base do vivo); o vitalismo restrito, usualmente chamado simplesmente vitalismo, em algumas das suas manifestações”neovitalismo”, que procura um princípio do orgânico (um princípio dominante, uma enteléquia, etc) caraterística do ser vivo e só dele; o organicismo biológico, também chamado biologismo, que afirma a irredutibilidade do orgânico ao não orgânico, mas que tende a fundar esta irredutibilidade não em algum princípio especial ou específico do orgânico, mas no modo o orgânico está estruturado. [Ferrater]