Aristóteles inaugura, no Peri hermeneias, seu estudo da segunda operação do espírito, com um capítulo (c. 4) sobre o discurso em geral. Segundo a definição que é dada neste local, o discurso, ou mais simplesmente a frase, “oratio”, é um conjunto verbal cujas partes, tomadas separadamente, têm uma significação como termos e não como afirmação ou negação:
“vox significativa ad placitum cujus partes separatae aliquid significant ut dictio non ut affirmatio vel negatio”.
Dito de outra forma: o discurso tem, como elementos, simples termos. Esta afirmação não vem sem dificuldades, uma vez que é comum encontrarmos enunciações que têm como partes proposições já constituídas. Ex.: “Se chover, a terra se molhará”. Este caso especial das enunciações ditas “compostas” não está compreendido na definição que acabamos de dar, a qual não considera senão as enunciações “simples” que são o próprio tipo da enunciação.
Na sequência do livro, Aristóteles distingue o discurso imperfeito que deixa o espírito como que em suspenso “homem justo”, “de passagem”, e o discurso perfeito que apresenta algo como que acabado, definido: “Pedro é justo”. O discurso perfeito se subdivide em enunciação e em argumentação, formas expressivas correspondentes à segunda e à terceira operação do espírito, e em discurso prático (ordenativo), em que entra um elemento de intenção voluntária. Os discursos práticos são de quatro espécies, segundo Tomás de Aquino
“Do fato de que a inteligência ou a razão não tem como função unicamente o conceber nela mesma a verdade objetiva, mas também o dirigir e ordenar as outras coisas de acordo com o que ela concebeu, resulta que, sendo a própria concepção do espírito significada pelo discurso enunciativo, deve haver outras formas de discurso que exprimam a ordem segundo a qual a razão exerce sua função de direção. Ora, um homem pode ser ordenado pela razão de um outro, a três atos: primeiramente, a prestar atenção; a isso corresponde o discurso vocativo. Em segundo lugar a dar uma resposta vocal, e a isso corresponde o discurso interrogativo. Em terceiro lugar, a executar, e a isso corresponde: relativamente aos inferiores o discurso imperativo e com relação aos superiores o discurso deprecativo, ao qual se liga o discurso optativo, uma vez que o homem não tem outro meio de agir sobre aquele que lhe é superior pela expressão de um desejo”. Peri hermeneias, I, L 7, n 5
E Tomás de Aquino conclui que, já que nenhuma destas formas de discurso exprime o verdadeiro ou o falso, somente a enunciação propriamente dita vai interessar à lógica. [Gardeil]