(in. Objectivity; fr. Objectivité; al. Objektivität; it. Oggettività).
1. Em sentido objetivo: caráter daquilo que é objeto. Neste sentido, Husserl falava de uma “objetividade primária” que pertenceria às coisas e as privilegiaria diante dos outros objetos, como propriedade, relações, estados de fato, conjuntos, etc. (Ideen, I, § 10).
2. Em sentido subjetivo: caráter da consideração que procura ver o objeto como ele é, não levando em conta as preferências ou os interesses de quem o considera, mas apenas procedimentos intersubjetivos de averiguação e aferição. Neste significado, a objetividade é um ideal de que a pesquisa científica se aproxima à medida que dispõe de técnicas convenientes. [Abbagnano]
O traço de espírito clássico, que informa com estilo peculiar toda a filosofia de Tomás de Aquino, poderia ser encontrado também em muitas outras teorias do sistema elaborado pelo Santo Doutor. Constantemente ao estudá-lo perceberíamos o inalterável respeito às hierarquias do real, a inalterável submissão à objetividade mais estrita; todos os caracteres, em suma, que qualificam de clássica uma filosofia e a mantêm sempre aberta a todos os ensinamentos que Deus e as coisas nos enviam. Porque dois caminhos se oferecem agora ante o filósofo: ou considerar que na verdade o pensamento se ajusta ao objeto, ou considerar que o objeto se ajusta ao pensamento. No primeiro caso temos esse tipo de filosofia que poderíamos chamar aberta. Aristóteles e Tomás de Aquino são, sem dúvida, os representantes mais perfeitos desta maneira de filosofar. No segundo caso temos o tipo de filosofia que cabe chamar fechada, e cujos expoentes mais ilustres são talvez Descartes e Kant. A filosofia aberta começa pela realidade, pelo ser, e trata de fixar em conhecimentos verdadeiros a estrutura própria da realidade, destas e aquelas realidades, de toda a realidade em geral e daquela realidade que é fonte e origem de toda realidade. A filosofia aberta é, pois, em termos gerais realista; procura ajustar o pensamento ao ser; está sempre atenta a submeter a razão às exigências do objeto. É objetiva no amplo sentido da palavra; quer dizer, submissa humildemente às modalidades do objeto puro. Pelo contrário, as filosofias fechadas seguem o caminho diametralmente oposto. Começam pelo eu cognoscente; analisam depois o ato racional de conhecer; fixam as estruturas próprias do pensamento e logo depois transferem ao objeto essas estruturas do sujeito e reduzem o ser que é a simples termo do eu que conhece. Para essas filosofias fechadas o objeto não é mais que um produto, por assim dizer, do sujeito; de sorte que tudo isto que chamamos a realidade fica aprisionado dentro das modalidades e condições em que funciona o pensamento racional puro. O nome de idealismo não encaixa mal nessa maneira de filosofar, na qual a realidade se reduz à condição de simples ideia.
Das filosofias abertas, objetivas, sem preconceitos, o exemplo melhor sucedido é sem dúvida a filosofia de Tomás de Aquino. Pela sua própria índole e essência, o realismo do Doutor Angélico oferece entrada franca no seu vasto seio a todos os modos de saber que sejam exigidos pela estrutura própria do objeto conhecido. Será experimental nas ciências positivas da natureza material; analítico nas ciências matemáticas dos objetos ideais; racional na pesquisa ontológica do ser puro; crítico e psicológico na história dos acontecimentos humanos; de autoridade na ciência teológica da revelação divina. No realismo, a fé, a razão, a crítica, a análise, a observação, a experimentação, são vias e métodos igualmente legítimos que nos proporcionam conhecimentos verdadeiros da realidade quando se adaptam convenientemente às estruturas ônticas do objeto estudado. A unidade da verdade.
Firmada sobre a unidade do ser, não somente não sofre detrimento, mas ao contrário se afirma e enaltece com a diversidade harmônica dos modos humanos de conhecer. A filosofia de Tomás de Aquino aceita todas essas modalidades de conhecimento e as faz convergir todas na síntese total do saber. [Morente]