Depois de Dilthey, a crítica da razão histórica daria substanciais passos adiante — que ainda causam impacto por sua originalidade e validade — com Max Weber. Mas, entre Dilthey e Weber, situa-se um grupo de pensadores que, movendo-se em torno dos problemas levantados e discutidos por Dilthey, introduzem algumas novidades metodológicas (como é o caso de Windelband e de Rickert) ou então levam às últimas consequências o relativismo de Dilthey (o que fazem Simmel e Spengler) ou ainda reagem a esse relativismo propondo valores absolutos (esse o caminho trilhado sobretudo por Troeltsch e Meinecke, mas também pelo último Windelband e por Rickert).
Wilhelm Windelband (1848-1915) — representante da escola de Baden juntamente com Rickert, como já sabemos, enfrenta o problema do conhecimento histórico como neocriticista: para ele, “a ciência histórica constitui o problema da crítica, a exemplo da pesquisa natural”. Em 1894, no escrito História e ciência natural, ele faz questão de precisar que a filosofia não podia permanecer estranha ao portentoso desenvolvimento das ciências históricas, sob pena de correr o risco de se defasar em relação a efetivas aquisições científicas. Mas pode-se considerar satisfatórios os resultados conseguidos por Dilthey em seu trabalho? Sobre que bases sólidas Dilthey apoiava a distinção entre ciências da natureza e ciência do espírito?
Windelband rejeita com firmeza tal distinção, por se tratar de distinção metafísica infundada que contrapõe a “natureza” ao “espírito”. Na opinião de Windelband, a distinção de Dilthey é o mascaramento metodológico de pressuposta, ilegítima e não proclamada distinção metafísica entre natureza e espírito. Consequentemente, Windelband (prescindindo aqui da sua interpretação nem sempre muito correta de Dilthey) contrapõe à distinção de base objetual (natureza e mundo humano) de Dilthey uma distinção de método.
Windelband distingue as disciplinas científicas em ciências nomotéticas e ciências idiográficas. As primeiras são as que procuram determinar as leis gerais que expressam a regularidade dos fenômenos; as segundas são as ciências que voltam sua atenção para o fenômeno singular, visando compreender sua especificidade e individualidade. Escreve Windelband: “As ciências de experiência procuram no conhecimento do real ou o geral, sob a forma de lei da natureza, ou particular, em sua fisionomia historicamente determinada. Elas consideram, por um lado, a forma permanente e, por outro lado, o conteúdo singular, determinado em si, do devir real. As primeiras são ciências da lei, as outras são ciências do acontecimento; aquelas mostram o que é sempre, estas o que foi outrora. No primeiro caso, o pensamento científico é nomotético, no segundo é idiográfico.”
Assim, perde todo o seu valor a distinção objetual proposta por Dilthey: qualquer fenômeno e qualquer acontecimento pode ser estudado como caso particular de uma uniformidade ou para se compreender o seu caráter típico e a sua irrepetibilidade. Desse modo, por exemplo, “a ciência da natureza orgânica tem caráter nomotético enquanto sistemático-descritiva e tem caráter idiográfico enquanto considera o desenvolvimento dos organismos sobre a terra”.
Assim, de um lado a lei e de outro lado os acontecimentos em sua individualidade. E, assim, como não se pode deduzir da lei o acontecimento particular, porque é único e irrepetível, da mesma forma não se pode, a partir deste, chegar à determinação da lei. “A lei e o acontecimento permanecem, uma ao lado do outro, como as únicas grandezas incomensuráveis da nossa compreensão do mundo”. Para Windelband, essa irredutibilidade é problema insolúvel. E, no entanto, é nessa irredutibilidade que se basearia a autonomia das ciências históricas. [Reale]