NATORP (Paul Gérard), filósofo alemão (Dusseldorf 1854 — Marburgo 1924). Professor da Universidade de Marburgo, tomou parte num movimento que, contra a mística proveniente dos filósofos pós-kantianos (Fichte, Hegel), preconizou o “retorno a Kant”. Esse movimento denomina-se “neo-kantismo” ou escola de Marburgo. As análises intelectuais de Natorp prolongam as de Lange, Zeller e sobretudo as de Hermann Cohen; preparam o caminho para a fenomenologia de Husserl. Natorp é autor de, principalmente: A religião nos limites da humanidade (1894), Filosofia, seu problema é seus problemas, introdução ao idealismo critico (1911) e Psicologia geral segundo o método crítico (1912). [Larousse]
Outro prestigioso representante da escola de Marburgo foi Paul Natorp (1854-1924), estudioso de amplos interesses, autor de A doutrina platônica das ideias (1903), de Os fundamentos lógicos das ciências exatas (1910) e também de escritos de pedagogia, psicologia e política, como Guerra epaz (1916) e A missão mundial dos alemães (1918). A exemplo de Cohen, Natorp afirma que a filosofia não é a ciência das coisas: das coisas falam precisamente as ciências, ao passo que a filosofia é a teoria do conhecimento. Entretanto, a filosofia não estuda o pensamento subjetivo, ou seja, ela não indaga sobre a atividade cognoscente, sobre a atividade psíquica, e sim sobre conteúdos. E estes são determinações progressivas do objeto.
Em Os fundamentos lógicos das ciências exatas, podemos ler que o conhecimento é síntese e a análise consiste na inspecção das sínteses já efetuadas. Sínteses que devem ser submetidas a reelaboração contínua de modo a aperfeiçoar sempre mais as determinações dos objetos. Por isso, o objeto não é um dado, não é um ponto de partida, senão um ponto de chegada que se desloca sempre. Em suma, o obiectum é um proiectum: é conhecimento sempre mais determinado que se projeta sobre a realidade. E não há termo para essa determinação; portanto, o objeto está sempre in feri, é tarefa infinita (Vanni-Rovighi).
A realidade, portanto, não a constitui o indeterminado, que não é nada sem as suas determinações, nem estas se reduzem às determinações sempre provisórias. O real é muito mais o processo do determinar. Natorp recorda a frase do Fausto, de Goethe, “Im Anfang war die Tat” (“no princípio era a ação”) e escreve: “O processo e o método são tudo. Por conseguinte, o ‘fato’ da ciência deve ser entendido somente como ‘fazer’, O que importa é o que se vai fazendo, não o que é fato. Só o fieri é o fato: todo o ser que a ciência procura estabelecer (fest-stellen) deve se resumir de novo na corrente do devir”.
Cohen também afirmara que a atividade do pensamento está no julgar e que julgar é produzir. E também afirmara que o “dado”, como fica claro na matemática, não é um material bruto que se oferece ao pensamento, mas sim aquilo que o pensamento pode encontrar. Entretanto, diferentemente de Cohen, Natorp não restringe a reflexão à experiência físico–matemática, mas a exige também para a experiência moral, a estética ou a religiosa. Mas, como veremos dentro em pouco, o desenvolvimento dessa ampliação realizá-lo-ia Ernst Cassirer. Ainda um último ponto importante: deixando de lado aqui o seu valor historiográfico, a interpretação que Natorp dá da doutrina platônica das Ideias está em plena coerência com a sua filosofia. Para Natorp, as Ideias de Platão não são o que a tradição interpretativa, iniciada por Aristóteles, pretendia que fossem, isto é, objetos, supercoisas fixas. Não, as Ideias de Platão não são objetos ou supercoisas: “A Ideia expressa o termo, o ponto situado no infinito, para o qual estão voltados os caminhos da experiência; ela, por conseguinte, é a lei do procedimento científico”. A Ideia é ideal normativo. [Reale]