moral

(lat. moralia; in. Morals; fr. Morale; al. Moral; it. Moralè).

1. O mesmo que Ética.

2. Objeto da ética, conduta dirigida ou disciplinada por normas, conjunto dos mores. Neste significado, a palavra é usada nas seguintes expressões: “moral dos primitivos”, “moral contemporânea”, etc. [Abbagnano]


(ethikos; lat. moralis; in. Moral; fr. Moral; al. Moral; it. Moralè).

Este adjetivo tem, em primeiro lugar, os dois significados correspondentes aos do substantivo moral: 1) atinente à doutrina ética, 2) atinente à conduta e, portanto, suscetível de avaliação moral, especialmente de avaliação moral positiva. Assim, não só se fala de atitude moral para indicar uma atitude moralmente valorável, mas também coisas positivamente valoráveis, ou seja, boas.

Em inglês, francês e italiano, esse adjetivo depois passou a ter o significado genérico de “espiritual”, que ainda conserva em certas expressões. Hegel lembrava este significado com referência ao francês (Enc., § 503); ele ainda persiste, p. ex., na expressão “ciências morais”, que são as “ciências do espírito”. [Abbagnano]


A ciência do bem e das regras da ação humana. — A moral constituiu-se, na Antiguidade, opondo-se à física, como a ciência do homem (Sócrates) à natureza (os filósofos jônicos). A moral responde à pergunta sobre o verdadeiro destino do homem; é, assim, a parte da filosofia que mais diretamente interessa a cada um. Toda ação livre e refletida supõe que seu fim seja considerado válido, isto é, que inclua uma reflexão e uma decisão morais. De maneira geral, desde que refletimos sobre nossa vida e o sentido que lhe queremos dar, colocamos o problema da moral. Na história da filosofia, o problema recebeu duas soluções gerais: segundo a primeira, o objetivo supremo do homem é a felicidade (epicurismo, utilitarismo inglês); de acordo com a segunda, o objetivo último é a virtude, ou prática do dever (estoicismo, moral de Kant). O homem moral, escrevia Kant, não é o que é feliz, mas sim o que “merece” ser feliz; nesse mérito consiste todo o valor moral. Em suma, a moralidade de um ato não consiste no conteúdo mesmo do ato, mas sim na maneira pela qual nós o realizamos: por exemplo, pode-se dar esmola por interesse, esperando-se dessa maneira comprar um lugar privilegiado no outro mundo, ou por sentimento ocasional de piedade. Na verdade, o homem moral não é o que socorre os miseráveis por cálculo ou por sentimento, mas por princípio. Só é moral a conduta humana que expresse um “princípioracional e voluntariamente praticado. Pode-se estabelecer um quadro de acordo com os diferentes sistemas de moral (V. quadro p. 205). Atualmente, a moral apresenta-se particularmente como uma teoria das relações com o outro, uma filosofia da “comunicações” (M. Buber, E. Levinas): é na relação imediata com o “rosto” de outro que o homem faz originalmente a experiência dos valores morais (por ex., apreender o olhar do outro é compreender que não se pode constrangê-lo). A moral tende assim a inscrever-se numa “ontologia”, isto é, uma teoria da realidade: é muito mais da descrição dos “fatos humanos” do que uma análise interior de sua consciência que o filósofo esforça-se por deduzir naturalmente nossos deveres elementares, fundando assim uma teoria dos valores. (V. comunicação, histórico.) [Larousse]


Os termos ética e moral são usados, por vezes, indistintamente. Contudo, o termo moral tem usualmente uma significação mais ampla que o vocábulo ética. Em algumas línguas, e o português é uma delas, o moral opõe-se ao físico, e daí que as ciências morais compreendam, em oposição às ciências naturais, tudo o que não é puramente físico no homem (a história, a política, a arte, etc), isto é, tudo o que corresponde às produções do espírito subjectivo e até o próprio espírito subjectivo. As ciências morais ou, como tradicionalmente são chamadas, ciências morais e políticas, compreendem então os mesmos temas e objetos que as ciências do espírito, sobretudo quando se entendem estas como ciências do espírito objetivo e da sua relação com o subjectivo. Por vezes, opõe-se também o moral ao intelectual para significar aquilo que corresponde ao sentimento e não à inteligência ou ao intelecto. Finalmente, o moral opõe-se comummente ao imoral e ao amoral enquanto está inserido no mundo ético que se opõe àquilo que se enfrenta com este mundo ou permanece indiferente perante ele. A moral é, nesse caso, aquilo que se submete a um valor, enquanto imoral e o amoral são, respectivamente, aquilo que se opõe a qualquer valor e aquilo que é indiferente ao valor. Hegel distinguiu entre a moralidade como moralidade subjectiva e a moralidade como moralidade objetiva. Enquanto a primeira consiste no cumprimento do dever, pelo ato de vontade, a segunda é obediência à lei moral enquanto fixada pelas normas, leis e costumes da sociedade, a qual representa ao mesmo tempo o espírito objetivo. Hegel considera que a mera boa vontade subjectiva é insuficiente. É mister que a boa vontade subjectiva não perca em si mesma ou, se quiser, mantenha simplesmente de que aspira ao bem. O subjetivismo é aqui meramente abstrato. Para que chegue a ser concreto, é preciso que se integre com o objetivo, que se manifesta moralmente como moralidade objetiva. Esta também não é uma ação moral simplesmente mecânica: é a racionalidade da moral universal concreta que pode dar um conteúdo à moralidade subjectiva da mera consciência moral.

O termo moral foi usado muitas vezes como adjectivo que se aplica a uma pessoa determinada, da qual se diz então que é moral. [Ferrater]