MEYERSON (Emile), filósofo francês de origem polonesa (Lublin 1859 — Paris 1933). Estudou química na Alemanha, ali se fixando a partir de 1882. Redator de política estrangeira durante muito tempo na agência Havas, interessou-se desde 1890 pela filosofia das ciências. Escreve então Identidade e realidade (1907), Da explicação nas ciências (1921), A dedução relativista (1925), O encaminhamento do pensamento (1931). Sua ideia principal é que a explicação científica progrida reconduzindo à identidade todos os dados do mundo real. Sua filosofia apresenta-se como um racionalismo crítico centrado sobre a tensão entre a razão e o real. [Larousse]
Emílio Meyerson, químico de profissão e historiador da química, nascido na Polônia em 1859 e falecido em Paris em 1933, expõe uma verdadeira filosofia — ou antes delineia-lhe a introdução — em quatro livros capitais: Identidade e realidade, Da explicação nas ciências, A dedução relativista e Da marcha do pensamento.
No fundo, o objeto da filosofia consiste em tudo deduzir e em partir de um princípio que permita semelhante operação. O idealismo julgou encontrar esse princípio no espírito e o materialismo pensou vê-lo no corpo; mas ninguém soube dizer como um corpo podia sair do espírito ou um espírito do corpo. Mais circunspecto, Meyerson contentou-se em procurar os caminhos pelos quais o espírito assim procedia e julgou descobri-lo no que ele chama identidade.
Procuramos reduzir o desconhecido ao conhecido, o movimento ao imóvel, o estranho ao familiar, o extraordinário à regra e o mundo, enfim, a nós mesmos. O que nos choca, no fundo, é que as coisas sejam diversas de nós e a nossa curiosidade inquieta só encontra algum alívio quando podemos submetê-las às categorias da inteligência — tempo, espaço, causalidade — e quando as alinhamos na ordem dos nossos pensamentos, sem levar suficientemente em conta que somos nós que criamos esta ordem e que ela deriva da nossa constituição íntima. Teríamos atingido o ideal quando nada mais restasse de anormal e quando houvéssemos reduzido tudo aos quadros em que nos colocamos com os objetos que podemos apreender; o ideal seria explicarmos o universo como se o tivéssemos feito, isto é, como se fôssemos Deus.
Para Meyerson, portanto, todo conhecimento é a verificação de uma identidade. Se, por exemplo, concluímos que o duelo é um crime, é porque o fazemos primeiramente entrar na definição do crime para em seguida isolá-lo desta; se dizemos que o ouro é amarelo, pesado e fundível, é que identificamos as impressões dele recebidas com as ideias de cor, de peso e de fusibilidade que já se encontram em nós. Parece, assim, que a nossa vida mental deva terminar numa simples tautologia. Mas, felizmente, nada disso acontece. Se estabelecemos “identidades” é porque esperamos tirar delas algo mais que uma simples verificação.
Destarte definimos qualquer objeto reduzindo-o a nós, e conhecer é reconhecer-se. No entanto, visto como apesar da nossa boa vontade não somos deuses, existem pontos em que somos forçados a nos deter, em que cessa toda possibilidade de dedução. É o que Meyerson chama os “irracionais”. A sensação é um deles, e de primeira linha; o átomo ou o elemento, que se nos depara ao termo de toda divisão material, é um outro. Ousemos acrescentar: a própria vida nos parece ser o supremo irracional, essa vida que, mesmo que chegasse a deduzir tudo, não poderia incluir-se nessa dedução e continuaria tão pouco explicável como no ponto de partida deste trabalho.
Era exatamente aonde queríamos chegar com Meyerson e onde ele nos serve. Ele próprio o diz e o mostra: a razão não penetra senão a superfície das coisas; mal a ciência dá alguns passos, choca-se com algum irracional ou com o irracional, simplesmente, e ainda as leis mais indubitáveis que ela formula não são tão indubitáveis como parecem. Num momento dado o mais essencial e o mais trágico, ela é obrigada a calar. Nada mais erguerá então a voz depois da ciência, e não haverá outro caminho para o impossível? É o que nos perguntamos com os dois espíritos de primeira grandeza a que chegamos agora. [Truc]