método da psicologia

Sendo de pouco proveito considerações sobre o método antes de seu emprego, limitar-nos-emos aqui a esclarecer dois pontos.

Introspecção e método objetivo. Como toda ciência, a psicologia repousa sobre o conhecimento dos fatos. Nisto o aristotelismo harmoniza-se perfeitamente com as exigências modernas. Os fatos psíquicos, porém, ao menos os que são de nível elevado, têm de particular o fato de poderem ser atingidos de dois modos diferentes: objetivamente, enquanto são solidários com o mundo percebido pelos sentidos, e subjetivamente, em sua especificidade de fatos de consciência. A esta dupla possibilidade de acesso ao psiquismo correspondem dois métodos, um objetivo e outro subjetivo.

O método subjetivo, ou introspecção, é característico da psicologia. Os antigos já o utilizavam, embora não o empregando de modo sistemático. Depois, adotou-se a seu respeito duas atividades contrárias: para alguns a introspecção é o único meio que permite constituir uma psicologia autêntica, enquanto para outros tal método é cientificamente pouco válido, por causa de sua incerteza e de seu subjetivismo.

Face a estas afirmações opostas, parece que se deve reconhecer, ao mesmo tempo, o seguinte: em primeiro lugar, que a introspecção é para o psicólogo uma fonte autêntica e normal de informação e que é mesmo o meio privilegiado de se atingir toda a zona superior do psiquismo. E, em segundo lugar, que tal método implica em um fator de incerteza, tanto por causa da fugacidade dos estados de consciência, como pela impossibilidade de os submeter diretamente a processos de medida. De qualquer maneira, exige ser controlado e completado pela informação objetiva.

Os métodos objetivos, por sua vez, compreendem o conjunto dos processos graças aos quais a vida psíquica pode ser estudada exteriormente. O espírito, com efeito, está liado à matéria, o psíquico ao físico; a vida da alma repercute nos comportamentos corporais e pode ser considerada sob este prisma.

Aristóteles não desprezou este aspecto do estudo da alma. É mesmo a título de corpos, fazendo parte do cosmo como os elementos físicos, que ele aborda os viventes, intervindo só depois a análise interior das funções propriamente psíquicas. Por este lado, o peripatetismo aparenta-se com a psicologia mais atual. Os meios técnicos desta deixam-no evidentemente bem atrás, mas trata-se somente de maior ou menor perfeição de método.

Em definitivo, a psicologia utilizará combinadamente o método de introspecção e o de observação objetiva, e nada impede que tome a seus serviços as mais modernas técnicas de experimentação. Nada proíbe também que, nas mesmas condições, sejam utilizados os métodos comparativos ou diferenciais que a psicologia animal, a psicologia patológica e a psicologia genética podem oferecer. Não são raras, nos antigos, observações desta ordem. Toda fonte de informações será pois, legítima, mas sob a condição de não pretender ser exclusiva e de não trazer consigo preconceitos não controlados.

Método filosófico e método teológico. Uma outra questão relativa ao método é colocada em filosofia tomista. Aristóteles, como é natural, desenvolveu suas concepções seguindo uma ordem puramente filosófica e Tomás de Aquino, em seus comentários, segue-o por este caminho; mas em suas obras de teologia, o Doutor angélico procede de modo diverso. Para perceber isto basta confrontar a progressão do De Anima e a da grande exposição psicológica da Prima Pars (q. 75 a 89) . Na primeira destas obras, parte-se do mundo físico, onde certos corpos revelam a propriedade notável de se mover a si mesmos: são os vivos. Estudam-se suas atividades a partir das mais humildes, até que se descobre uma atividade superior, absolutamente independente da matéria, o pensamento, que nos abre acesso a outro mundo, o do espírito. Assim especula como filósofo quem, normalmente, eleva-se do menos abstrato ao mais abstrato ou do sensível ao inteligível. Na Summa Theologica, pelo contrário, o homem apresenta-se no seu conjunto, não como um corpo entre outros corpos, mas como uma criatura composta de um corpo e de uma alma, vindo esta diretamente de Deus e constituindo nosso objeto principal. A ordem das questões e a importância dada a cada uma delas é aqui evidentemente bem outra. Daí segue-se que a psicologia tomista pode ser apresentada autenticamente de duas maneiras diferentes: conforme o plano e no espírito do De Anima, ou colocando-se no ponto de vista dos tratados teológicos que lhe correspondem. Na segunda hipótese, tem-se a vantagem de expor, em sua linha mesma, as mais pessoais concepções de Tomás de Aquino. Seguindo o De Anima, ganha-se em se situar na fonte mesma da doutrina e, consideração que para nós é decisiva, especula-se como filósofo que no tomismo, como de direito, só atinge o espiritual a partir do mundo dos corpos. [Gardeil]