O estudo sobre textos da metafísica de Aristóteles apresenta importantes dificuldades. A primeira decorre de que o “corpus” dos quatorze livros, que contém o essencial das especulações do Estagirita sobre a filosofia primeira, não é uma obra de feitura contínua, mas sim um conjunto de trabalhos diversos, só mais tarde ordenado. Evidentemente não podemos abordar aqui o problema da crítica literária desta obra; contudo, não será supérfluo indicar os principais agrupamentos de livros, cujo conhecimento é indispensável a todos que desejam fazer uma leitura simplesmente inteligível do conjunto.
Os livros 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9 constituem um todo suficientemente coerente para que se possa praticamente considerar como um desenvolvimento contínuo, após as questões de introdução. São tratados aí, os problemas do objeto da metafísica (o ser enquanto ser e o que se refere a ele), da substância (modalidade fundamental do ser), enfim, do ato e da potência. Os livros 10 e 12 parecem constituir conjuntos compostos à parte, mas, do ponto de vista do plano previsto por Aristóteles, estes livros vêm tomar lugar na sequência do grupo precedente: O livro 10 trata do uno e do múltiplo, e A, após diversas recapitulações, da substância primeira. Os livros 13 e 14 contêm, em duas exposições paralelas e de datas provavelmente diferentes, uma crítica aprofundada da teoria dos números e das ideias. Os três outros livros dificilmente podem ser integrados no plano precedente. O livro 2, de autenticidade discutida mas geralmente reconhecida, trata em particular do problema da não regressão ao infinito; o livro 5 não é mais do que um léxico justificado, bastante precioso contudo, de noções de física e de metafísica; o livro 11 é uma compilação da Físicas e dos livros 3, 4 e 6. [Gardeil]