Em teoria da informação, dado certo alfabeto, uma mensagem sobre este alfabeto é qualquer sucessão (finita) de sinais do alfabeto. (Francisco Doria – DCC)
84. Falamos, pois, de deuses acenantes e, só como que em transcurso, do «reinar oculto» desses deuses, ao dizermos que o símbolo arquetípico é «reino desocultado» do «oculto reinar» dos deuses. Portanto, não insistimos na «ocultação dos deuses»; os deuses são só deuses, e não Deus, porque podem e querem sair de seu «reino oculto», porque conseguem sair dele, quando os «possessos» deles deles se libertam pelo saber o que são, pelo dizer, como podem, o que cada um deles é. E isto, fazem-no os homens, cuja religião e arte falam a linguagem do mito. Talvez seja inútil superfetação o explicarmos porque se deu o nome de símbolo arquetípico ao binômio «homem–mundo». Diga-se apenas que esta é outra designação do Macro-Símbolo, e que é símbolo na medida em que homem e mundo, conjuntamente, têm seu «ser-origem» no aceno do deus-possessivo. Estou perfeitamente cônscio de que vou contar um mito: que «era uma vez» em que o homem se apercebeu do silêncio que precede e do silêncio que trespassa toda a linguagem mítica, de um silêncio insignificado por palavras significantes, um silêncio que esperava significação, [172] e que essa significação só viria de outro mito mais abrangente, ou do que já não seria propriamente mito. Se ainda era mito, já não o era como expressão desocultante do «oculto reinar» de cada um dos deuses, do ato mediante o qual o homem punha fora de si, projetava fora de si, o ser do deus que possuía — a si e ao mundo. Talvez, num primeiro estágio deste processo, a «possessão» passasse de contínua a intermitente. Talvez a religião, por vezes, despertasse do «sono do seu culto», e que, nesses momentos de vigília, o homem se apercebesse daquele silêncio insignificado. E, por fim, se desse conta de que os deuses são «mensageiros da Divindade». Isto pode ainda ser mito, mas já é mito, ou já pertence ao mito que correrá paripassu ao lado ou através do desenvolvimento (que consiste em retirar sucessivas envolturas) da metafísica. Presumivelmente, o desenvolvimento da metafísica vai dar na sua completa desnudificação, e, desnuda, a metafísica diz o que na linguagem desse mito procurava dar-se como mais ou menos completa expressão deste «facto» novo: os deuses são «mensageiros da Divindade», os deuses acenantes perderam algo do seu ser, enquanto «mensageiros da Divindade», e o que eles perderam, ganhou-o a Divindade, de que não se falava até então. Mas, por agora, o ser da Divindade parece esgotar-se no seu envio de mensagens que são os deuses acenantes, e a mensagem, no aceno. O aceno, acenante para o símbolo arquetípico, já não acena só para este e para o deus que o acena. O aceno-acenante, é-o, também, para fora ou para cima do «oculto reinar» dos deuses, e o «reinar dos deuses», enquanto se desoculta no «homem–mundo», no símbolo arquetípico, desoculta-se também no serem, os deuses acenantes, acenantes de uma mensagem da Divindade. Quer dizer, aquele símbolo faz-se, por meio dos deuses, o conteúdo e a forma da mensagem. Oculto, agora, só fica o Expediente da mensagem, que, como todo o expediente de mensagens, não é a mensagem, qualquer das mensagens, ou todas as mensagens em conjunto, que envia, enviou ou enviará. Não vemos, portanto, como «o Deus aparece no seu ser, a partir do oculto reinar dos deuses». A menos que o ser de Deus apenas consistisse do ser Expediente das mensagens. É verdade que Heidegger acrescenta: «o Deus aparece no seu ser, que o subtrai a todo o confronto com o que é presente». [EudoroMito:172-173]