O ideal lógico de Aristóteles foi o de constituir uma teoria da ciência e, por isso, uma rigorosa teoria da demonstração. Segue-se daí, que a parte essencial do Organon é formada pelos Segundos Analíticos. Os livros precedentes, Categorias, Peri hermeneias e mesmo os Primeiros Analíticos, não são, de alguma forma, senão uma preparação. Os Tópicos, e a Refutação dos sofismas representam um conjunto complementar.
Voltemos aos Analíticos. Os Primeiros estabelecem as regras do raciocínio correto; os Segundos são dirigidos pela própria definição da demonstração científica e da ciência: “demonstratio est syllogismus faciens scire — scire est cognoscere per causas”. A demonstração, portanto, depende do conhecimento das causas e dos princípios sendo que estes não podem ser demonstrados; pelo menos pode-se recorrer aos últimos princípios que não são adquiridos por ciência.
É necessário, portanto, que um outro processo lógico nos coloque na posse desses princípios. De maneira geral, este será a indução. Como a demonstração supõe o conhecimento do termo médio, pode-se também dizer que a definição desse termo médio é princípio e que, em consequência, os métodos da definição são também preparatórios para a demonstração. Em definitivo, no conjunto da lógica aristotélica, indução e definição, ao mesmo tempo que conduzem a resultados que têm valor em si mesmos, aparecem também como preliminares da demonstração científica.
Será entretanto, permitido afirmar que toda a lógica aristotélica resume-se na teoria da demonstração científica? Isso seria esquecer todo aquele complexo de processos menos rigorosos do espírito que encontramos nos Tópicos. Em uma multidão de casos, muitas vezes temos de contentar-nos com raciocinar sobre o provável. Por outro lado, a parte efetivamente mais considerável da vida da inteligência será sempre constituída por essa atividade de pesquisas e de invenção que, ela também, se vê compreendida, no peripatetismo, sob o título geral de dialética. Tomás de Aquino teve consciência disso, e um estudo atento dos processos metódicos que ele preconizou e utilizou nessa ordem de coisas conduz-nos certamente a resultados novos e interessantes.
Devemos acrescentar que um outro enriquecimento da lógica demonstrativa aristotélica nos é trazido por Tomás de Aquino, com a doutrina ampliada e sistematizada que ele propõe da analogia. A metafísica e o estudo de Deus em particular, empregam processos metódicos que, sem fugir das regras lógicas gerais, lhes são próprios. Ao teólogo cabe esse estudo. [Gardeil]
Aristóteles, amigo de Platão, mas, como ele mesmo diz, mais amigo da verdade, desenvolve por sua vez o método da dialética de uma forma que o faz mudar de aspecto. Aristóteles atenta principalmente para esse movimento da razão intuitiva que passa, por meio da contraposição de opiniões, de uma afirmação à seguinte e desta à seguinte. Esforça-se para reduzir a leis esse trânsito de uma afirmação à seguinte. Esforça-se para encontrar a lei em virtude da qual de uma afirmação passamos à seguinte.
Esta concepção de Aristóteles é verdadeiramente genial porque é a origem daquilo que chamamos à lógica. Não se pode dizer que seja Aristóteles o inventor da lógica, visto que já Platão, na sua dialética, possui uma lógica implícita; porém é Aristóteles que lhe dá estrutura de forma definitiva, a mesma forma que tem hoje. Não mudou durante todos estes séculos. Dá uma forma e estrutura definitivas a isto que denominamos a lógica, ou seja a teoria da inferência, de uma proposição que sai de outra proposição.
As leis do silogismo, suas formas, suas figuras, são pois, o desenvolvimento que Aristóteles faz da dialética. Para Aristóteles, o método da filosofia é a lógica, ou seja a aplicação das leis do pensamento racional que nos permite passar de uma posição a outra posição por meio das ligações que os conceitos mais gerais têm com outros menos gerais até chegar ao particular. Essas leis do pensamento racional são, para Aristóteles, o método da filosofia.
A filosofia há de consistir, por conseguinte, na demonstração da prova. A prova das afirmações que se antecipam é que tornam verdadeiras estas afirmações. Uma afirmação que não está provada não 6 verdadeira, ou pelo menos, como ainda não sei se é ou não verdadeira, não pode ter atestado de legitimidade no campo do saber, no campo da ciência. [Morente]