Assim como o filósofo grego que "anda na confusão do mercado não para vender ou comprar alguma coisa, mas sim para contemplar todo o vaivém" ou como "ele anda por distantes países e tem relações com povos estrangeiros não para realizar negócios mais ou menos importantes, mas sim com objetivos de estudo", da mesma forma Avenarius procura "fazer com que só as próprias coisas falem", assumindo (e esse é o pressuposto empiriocrítico) que "no espaço diante de nós, há sempre, por um lado, um ambiente com múltiplos constituintes e, por outro lado, indivíduos humanos que fazem múltiplas afirmações" e que "os constituintes do ambiente formam os pressupostos do que se afirma".
O ambiente (que Avenarius designa com o símbolo R) determina as expressões humanas (simbolizadas por E) através do sistema nervoso (designado por C) do indivíduo que se expressa e cujo sistema nervoso depende não apenas dos estímulos do ambiente, mas também do alimento que assimila (designado por S). A experiência é reação vital contínua do organismo ao ambiente. Nesse sentido, observa Avenarius, são experiências autênticas tanto a do louco que diz experienciar que Deus lhe ordena jogar-se pela janela como a do primitivo que diz experienciar em sonho a visita a países distantes.
Desse modo, a crítica não se exerce sobre os dados do mundo externo, e sim muito mais sobre os dados do comportamento linguístico dos indivíduos. Escreve Avenarius: "Nós nos colocamos diante dos filósofos, de seus partidos e de suas controvérsias não diferentemente do que nos colocamos diante dos intercâmbios do mercado ou dos parlamentos". A crítica, portanto, se impõe como uma metafilosofia, onde o crítico da experiência pura (Kritizierendes Individuum) submete a análise os produtos dos indivíduos que formulam afirmações (Aussagende Individuen).
Na experiência pura, portanto, todo homem se encontra diante de situações de fato, nas quais o que se tem verdadeiramente — e originariamente — é um ambiente e outros indivíduos humanos, ambiente e indivíduos ligados por vínculo "que não pode ser dissolvido". O indivíduo e o ambiente não são duas realidades opostas: tanto uma como outra pertencem à mesma experiência, pois se tem a experiência do ambiente no mesmo sentido em que se tem a experiência de si mesmo e dos outros indivíduos. Assim, quando se diz que um eu vê uma árvore, o que verdadeiramente se tem é que "o eu e a árvore, em iguais condições, são o conteúdo de um só e mesmo dado. O eu e o ambiente estão absolutamente na mesma linha no que se refere ao seu ser dado".
Essencialmente, o que o crítico descreve é a experiência de inter-ação entre ambiente e sistema nervoso do indivíduo, é acontecimento biológico cujos constituintes são os elementos (designados por expressões como "verde", "azul", "frio", "quente", "duro", "suave", "doce", "azedo" etc.) e as características (expressões de qualificação, como "agradável", "desagradável", "belo", "feio", "benéfico", "antipático" etc). Podemos dizer que os elementos são descrições de sensações, ao passo que as características expressam as relações entre o eu e o ambiente, relações como o prazer e a dor, a mesmice e a alteridade, o familiar e o não-familiar, a segurança e a insegurança, o ser conhecido e o não ser conhecido, e assim por diante. E nada mais existe para além dos elementos e das características.
Essa é a razão por que Avenarius elimina a contraposição entre o físico e o psíquico, que é contraposição derivada da dependência biológica do indivíduo ao ambiente, mas que não indica dualidade real na experiência. Da mesma forma, não há distinção entre coisa e pensamento ou entre matéria e espírito. E nem se dá a possibilidade de distinguir a priori, como faz Kant, um eu dotado de estruturas categoriais.
Tudo o que a análise fisiológica nos permite ver é um conjunto de estados, sempre mais complexos, do sistema nervoso central, que é tipificado pela capacidade de adaptação ao ambiente. Daí o princípio da "economia do pensamento" que, em Avenarius, parece assumir dupla acepção: por um lado, o pensamento é visto como fruto da adaptação progressiva dos indivíduos ao ambiente, fruto que tende a obter o máximo resultado com o mínimo esforço; por outro lado, a filosofia entendida como crítica da experiência pura assume o ônus de purificar o ambiente cultural daqueles produtos do cérebro que são as diversas Weltanschauungen (cosmovisões, como a espiritualista e a materialista), fontes perenes de estéreis contraposições e disputas sem conclusão. [Reale]