O eu é uma atualidade, e ele nos oferece a "pathencia" (v. pathos) do ato.
"É preciso agora ter em conta que um ser vivo, ao viver, só se estende naquilo, só pode desenvolver-se realiter em direção àquilo, só pode atualizar aquilo que, "no fundo é já", que "potencial e implicitamente é já". E prossegue Maximilian Beck ("Psicologia" p. 150, em diante): "Entre os seres vivos por um lado e seus momentos explicativos por outro, flutua, contudo, uma tensão qualitativa, chamada, no caso dos seres corporais, "instinto", e, no dos seres anímicos, "vontade", "impulso". O ser ‘vivo é, potencialmente, a totalidade de tudo aquilo que, atual, explicativa e realiter, é apenas parte, sendo, por conseguinte, sempre, e em primeiro lugar, um dos seus momentos explicativos. Na forma da implicação é sempre mais que aquelas determinações por ou nas quais se realiza no caso respectivo.
Pois elas são determinações difusas, são separadas: uma só é esta, outra só aquela determinação. Enquanto o ser vivo se realiza nelas, estendendo-se em cada uma à totalidade de todas as outras: impulsa, tende, quer em toda atualização individual ou realização individual em direção ao desenvolvimento total daquilo que é, na forma da implicação, a forma da separação.
Experimenta como ser vivo corpóreo, "sente" como ser anímico em toda realização particular de sua essência o seu "instinto", o seu tender, a sua vontade, o seu impulso vital para o estender-se total, não apaziguado, insatisfeito".
O que o eu é (implicitamente) só pode ser devir (explicitamente) ao entrar numa relação atual com o mundo. (Só em contato com o mundo se desenvolve o eu). Os atos do eu são, por assim dizer, as atualizações das diversas perspectivas de relação com o mundo objetivo, que atuam predisponente-mente, atualizações que se expandem, emanadas da potencialidade (emergência).
O eu devêm o que é, a saber, projeção microcósmica deste, do macrocosmo, ao vivê-lo como aquilo que lhe é peculiar.
O eu "quer" ser o que já é, potencial e implicitamente.
Esta rápida explanação noológica muito nos auxiliará, oportunamente, a compreender os princípios intrínsecos e extrínsecos do ser. [MFS]
ser individual. — Na psicanálise, o "eu" define o equilíbrio entre as tendências instintivas ("id") e a consciência social presente em nós ("super-ego"); esse equilíbrio entre os desejos individuais e o sentimento das necessidades sociais pode variar em um ou outro sentido. Em psicologia, o estudo do "eu" faz-se por "introspecção", ou análise direta. A filosofia reflexiva francesa (Lachelier, Lagneau, Alexandre, Alain) esforçou-se por aprofundar a análise do eu em uma análise metafísica: o princípio desse aprofundamento consiste em partir de um fato de consciência individual e daí tirar o significado universal para todos os homens. Bergson concebia igualmente (Ensaio sobre os dados imediatos da consciência) (1896) uma passagem do eu psicológico (eu social) ao eu metafísico (eu profundo, idêntico à experiência da duração). Na filosofia, de maneira geral, o eu é o princípio de toda meditação, o que não significa que as verdades sejam relativas a nós, mas sim que o número das verdades que podemos descobrir é relativo à abertura, à formação e à riqueza de nosso "eu" (tal é a ideia diretora da filosofia do eu de Fichte, Husserl e do idealismo crítico em geral). [Larousse]