possibilidade

Möglichkeit

Ser-aí (Dasein) não é um ente subsistente (Vorhandenheit) que ainda possui como acréscimo poder ser algo, mas é primariamente ser possível (Möglichsein)… O ser-possível, que o ser-aí sempre é, distingue-se tanto da possibilidade lógica, vazia, como da contingência de algo subsistente com o qual pode “passar” isso ou aquilo. Como categoria modal da subsistência, a possibilidade designa o que ainda não é efetivo (wirklich) e que nunca será necessário (Notwendige). Caracteriza o somente possível. Do ponto de vista ontológico, é inferior à efetividade (Wirklichkeit) e à necessidade (Notwendigkeit). Em contrapartida, a possibilidade enquanto existencial é a mais originária e última determinidade (Bestimmtheit) ontológica positiva do ser-aí. (GA2, p. 191; apud. RRRAM:16-17; tr. Ramos dos Reis)


Possibilidade — atualidade.— Já em Ser e Tempo o filósofo afirma: “Acima da atualidade está a possibilidade’’. p. 38. Aqui o repete: “O possível situa-se acima do atual.” A afirmação do primado da possibilidade sobre a atualidade é um dos subterrâneos motivos fundamentais do pensamento heideggeriano. Possível, possibilidade, tomam aqui sentido bem diverso do da tradição: dynamis-energeia, ato e potência. A categoria da possibilidade refere-se ao ser enquanto velamento e desvelamento; vem contida na ambivalência do termo aletheia, e é, assim uma das chaves para a interpretação do método fenomenológico (Ver E. Stein: Compreensão e Finitude, pp. 39-42). O uso de categorias carregadas de ambiguidade e ambivalência do ponto de vista semântico constitui traço característico c relevante nos textos do filósofo e lhe dá uma ressonância c intensidade raras, hoje em dia, na literatura filosófica. Numa época em que a busca do rigor e da economia na linguagem filosófica exige cada vez maior formalização, perde-se esta ambivalência e polisse-mia. Os sistemas lógicos puramente extensionais reduzem os valores de verdade a dois: “verdadeiro” e “falso”. Quando, porém, não se busca apenas a significação ou referência (Bedeutung), mas o sentido (Sinn), a intensão do termo ou da proposição, salva-se a possibilidade de um jogo quase ilimitado com a linguagem, ou melhor, salva-se aquela estranha transgressão de limites com que se deparam todas as formalizações no terreno da linguagem. Por vias pouco usuais para as modernas preocupações com a linguagem. Heidegger explora radicalmente a intensionalidade. Ao lado da semântica extensional deve-se pressupor a possibilidade de uma semântica intensional para aceitar as proposições heideggerianas. Com um autor com intenções essencialmente ontológicas. nada pode fazer a lógica extensional. (Ernildo Stein, nota MHeidegger)