Pascal, Blaise
2. Le concept d’« être » est indéfinissable. C’est ce que l’on concluait de son universalité (NA: Cf. PASCAL, Pensées et Opuscules, éd. L. Brunschvig, Paris, 1912, p. 169 : « On ne peut entreprendre de définir l’être sans tomber dans cette absurdité : car on ne peut définir un mot sans commencer par celui-ci, c’est, soit qu’on l’exprime ou qu’on le sous-entende. Donc pour définir l’être, il faudrait dire c’est, et ainsi employer le mot défini dans sa définition. »). À bon droit — si « definitio fit per genus proximum et differentiam specificam ». L’être ne peut en effet être conçu comme étant ; « enti non additur aliqua natura » ; l’être ne peut venir à la déterminité selon que de l’étant lui est attribué. L’être n’est ni dérivable définitionnellement de concepts supérieurs, ni exposable à l’aide de concepts inférieurs. Mais suit-il de là que l’« être » ne puisse plus poser de problème ? Nullement. Tout ce qu’il est permis d’en conclure, c’est ceci : l’« être » n’est pas quelque chose comme de l’étant. Par suite, le mode de détermination de l’étant justifié dans certaines limites — la « définition » de la logique traditionnelle, qui a elle-même ses fondations dans l’ontologie antique — n’est pas applicable à l’être. L’indéfinissabilité de l’être ne dispense point de la question de son sens, mais précisément elle l’exige. (EtreTemps1)
C’est un mérite de la recherche phénoménologique que d’avoir procuré une vue plus dégagée sur ces phénomènes. Plus encore, Scheler surtout, obéissant à des suggestions d’Augustin et de Pascal {NA: Cf. Pensées, loc. cit. (supra, p. (4)) : « Et de là vient qu’au lieu qu’en parlant des choses humaines on dit qu’il faut les connaître avant que de les aimer, ce qui a passé en proverbe, les saints au contraire disent en parlant des choses divines qu’il faut les aimer pour les connaître, et qu’on n’entre dans la vérité que par la charité, dont ils ont fait une de leurs plus utiles sentences » ; cf. aussi Augustin, Contra Faustum (dans Migne, P.L., t. VIII), XXXII. 18: « Non intratur in veritatem, nisi per charitatem ».}, a infléchi cette problématique en direction des connexions de dérivation entre « actes représentants » et « actes d’intéressement ». Bien sûr, les fondements ontologico-existentiaux du phénomène d’acte en général n’en demeurent pas moins dans l’obscurité. (EtreTemps29)
Cf. Pascal, Pensées et Opuscules, édition Léon Brunschvicg, Paris, 1912, page 169 : « On ne peut entreprendre de définir l’Être sans tomber dans cette absurdité : car on ne peut définir un mot sans commencer par celui-ci, c’est, soit qu’on l’exprime ou qu’on le sous-entende. Donc pour définir l’Être, il faudrait dire c’est, et ainsi employer le mot défini dans sa définition. » (De l’esprit géométrique – texte original que j’ai reproduit. N.d.T.) (ETJA)
Pascal, Blaise (1623-1662)
É difícil, para não dizer impossível, fazer uma síntese do que foi esse homem. Matemático, físico, filósofo e homem profunda e sinceramente cristão são qualificativos que configuram somente em parte o perfil de Pascal. Nele se conjugam o homem científico, pesquisador, inventor, filósofo moralista e religioso mergulhador no mar interior de si mesmo e de todos os homens. A influência de Pascal em Rousseau, Bergson, nos existencialistas e, em geral, em todo homem que procura a verdade e Deus é evidente. Sua figura e sua obra são exemplares para os científicos e para os cristãos de hoje.
Nascido em Clermont-Ferrand em 1623, foi educado por seu pai num ambiente cultural seleto. Cedo sentiu um irresistível interesse pelos estudos científicos, matemáticos e físicos. Fruto dessas primeiras afeições e estudos serão o seu primeiro escrito científico sobre as cônicas e a invenção da máquina calculadora para tornar mais fácil o cálculo dos impostos. A estes lhe seguirão muitos outros até o fim de sua vida.
Aos 23 anos, Pascal tinha uma fé rotineira, para quem “tudo o que é objeto da fé, não pode sê-lo da razão”. A partir de 1646, tanto seu pai quanto ele converteram-se numa piedade do tipo jansenista. É a chamada “primeira conversão”. Seguiu-lhe o período conhecido como mundano, caracterizado pela importância excessiva dada à pesquisa científica, a ânsia de glória e o gosto pela vida de sociedade. O estudo desta etapa mundana revelou um Pascal desejoso de conhecer o homem e a sociedade. Nos finais de 1653, iniciou sua “segunda conversão”, manifestada através de “um grande desprezo pelo mundo e um desgosto quase insuportável por todas as pessoas que pertencem a ele”. Na noite de 23 de novembro de 1654, consumou-se a segunda conversão. A graça o “levou ao esquecimento do mundo e de tudo, fora de Deus”. Essa noite ficou confiada a um pedaço de pergaminho que levou costurado no forro de sua roupa, sem que ninguém o percebesse, até sua morte: o Memorial, que conclui com a “submissão total a Jesus Cristo e a meu diretor”.
A partir dessa data, a vida e a atividade de Pascal adquiriram uma dimensão nova: sua vinculação a Port-Royal e ao jansenismo, e seu compromisso de escrever uma apologia do cristianismo, cristalizado nos Pensamentos.
De sua residência em Paris, com breves estadas em Port-Royal, Pascal esteve em contato com os jansenistas, principalmente com Arnauld e Nicole, a instâncias dos quais empreendeu a defesa de Jansênio e sua doutrina frente aos jesuítas. Assim nasceram as que se conhecem hoje como Cartas provinciais, ou simplesmente provinciais, “escritas a um provincial por um de seus amigos sobre o objeto da presente disputa da Sorbonne”. Foram escritas entre 23 de janeiro de 1656 e 24 de março de 1657. São 18 cartas, nas quais o alvo centra-se nos jesuítas. Os “jesuítas colocaram o cristianismo em perigo ao acomodá-lo no mundo; substituíram a contrição-arrependi-mento, fundados no amor de Deus, pela atrição, que procede do temor ao inferno”. “Outra forma de compromisso com o mundo é a substituição da verdadeira moralidade pelo legalismo e da lei moral por uma série de preceitos ocasionais. Os jesuítas descartam o dever, e no seu lugar colocam a licitude e a procura de razões que podem tornar lícitas ações que estão em evidente contradição com a consciência moral”.
O verdadeiro valor das Provinciais não está, no entanto, em sua crítica à teologia imoral jesuítica de sua época. A novidade das Provinciais está no estilo breve, conciso, direto, que torna Pascal, disse Boileau, o “criador do francês moderno”. E em desmascarar o falso cristianismo. Talvez tais cartas preparassem o material do que, na sua intenção, deveria ser a apologia do cristianismo, e que fica na forma de Pensamentos que hoje conhecemos. Da projetada apologia do cristianismo, conservam-se mil fragmentos, alguns apenas esboçados, outros totalmente acabados. Pode-se descobrir o esquema de sua obra no fragmento 187: “Os homens — diz Pascal — menosprezam a religião; sentem aversão por ela e temor de que seja verdadeira. Para superar tal atitude, é necessário começar por mostrar que a religião não é em absoluto contrária à razão, mas venerável, infundindo respeito por ela; portanto, deve-se fazer amável e conseguir que os bons desejem que seja verdadeira; finalmente, deve-se mostrar que é verdadeira; venerável, porque ela conhece bem o homem; amável, porque promete o verdadeiro bem”. Por isso, o plano de sua obra compreende duas partes: na primeira, quer demonstrar que a religião não é contrária à razão; na segunda, que é contrário à razão rejeitar sua evidência.
A linha seguida por Pascal nos Pensamentos pode ser traçada desde o interior do homem até Deus. Começa declarando o estado atual do homem. Após sua queda original, é um ser cego que tateia em vão num mundo de sombras, suspenso entre o nada e o infinito: um complexo de grandeza e de miséria. Esse paradoxo humano, combinação de miséria e grandeza, leva-o a procurar com sinceridade uma realidade verdadeira e superior. Finalmente, deve-se examinar se nos revelou, de alguma forma, essa fonte de grandeza que encontramos em nós. Nesse exame, conclui-se que a religião cristã, reforçada pelos milagres e profecias, destaca-se como a verdadeira.
Várias são as provas pelas quais, segundo Pascal, podemos chegar até a crença verdadeira, até a “visão desse Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”, o único capaz de decifrar o nosso paradoxo humano. Entre as diversas razões, aponta uma particular e própria: o conhecimento do “coração”. Entre a razão e a sensibilidade, o conhecimento do coração — “a lógica do coração” — é o resultado de uma integração da universalidade racionalista dentro da fé pessoal. Dessa forma ganha sentido e valor o que é: “O coração tem razões que a inteligência não tem”. E uma prova auxiliar, não principal. Trata-se da famosa “aposta” na jogamos por uma todas as demais coisas. Podemos e devemos apostar na existência de Deus. Nesta aposta arriscamos uma série de bens finitos, mas ganhamos um bem infinito. Se se ganha, ganhamos tudo; se se perde, não perdemos nada. Deve-se apostar, portanto, que existe Deus, que é infinito, e jogamos contra algo finito. O caráter utilitário da prova indica-nos que ela é dirigida para os incrédulos: um passo prévio para dispor o espírito à procura do verdadeiro Deus. Não é uma prova que demonstre a verdade do cristianismo. Com ela não se demonstra que o cristianismo seja uma religião verdadeira: continua um mistério. Se é “o coração o que sente Deus e não a razão”, deve-se procurar um “Deus vivo” e não uma “verdade eterna”, ou um “organizador do universo”, o chamado “deus dos filósofos”. Deve-se procurar Deus em Jesus Cristo, o único que salva do ateísmo e do deísmo, e o único que permite o que é mais importante e decisivo: a salvação. Devemos comunicar-nos com Deus através da mediação com Jesus Cristo. Desta forma, o conhecimento de Deus deve ser ao mesmo tempo o conhecimento de nossa miséria. Em consequência, o problema que se deve tratar racionalmente é o das provas da verdade de Jesus Cristo, baseadas nos milagres e nas profecias. Assim sabemos qual é a verdadeira religião.
— Os que se extraviam, fazem-no por não verem uma destas coisas. Pode-se conhecer Deus sem conhecer a própria miséria, e a miséria sem Deus. Mas não se pode conhecer Jesus Cristo sem conhecer, ao mesmo tempo, a Deus e a própria miséria.
— Jesus estará em agonia até o fim do mundo: se não deve dormir durante esse tempo (735).
— Não conhecemos Deus senão por Jesus Cristo. Sem esse mediador, fica suprimida toda comunicação com Deus; por Jesus Cristo conhecemos a Deus. Todos os que pretenderam conhecer Deus e demonstrá-lo sem Jesus Cristo, não tinham mais do que provas impotentes (729).
BIBLIOGRAFIA: Oeuvres completes. Ed. de L. Brunschvich, 1904-1914, 14 vols.; J. Mesnard, Pascal: el hombre y su obra, 1973. (Santidrián)
Pascal, contemporâneo dos primórdios do racionalismo propriamente dito, já entende “coração” no sentido exclusivo de “sentimento”. (Guénon)