Nietzsche

Heidegger aproxima-se neste ponto do modo nietzschiano de compreensão da história, tal como esse modo se encontra exposto na Segunda consideração extemporânea: Da utilidade e da desvantagem da história para a vida. Neste texto que possui um lugar particular em Ser e tempo, Nietzsche defende a concepção de uma história a serviço da vida, segundo a qual o passado precisaria ser apropriado pelas máximas potencialidades do presente em nome do futuro. A diferença entre a posição heideggeriana e a nietzschiana está apenas no modo como os dois pensam o conceito de mundo, assim como no primado que cada um entrega a uma das dimensões temporais. Enquanto Heidegger pensa a história em sintonia com uma noção de mundo como espaço de constituição de ontologias, Nietzsche considera o processo histórico como um processo constitutivo da vida em todas as suas dimensões; ao mesmo tempo, enquanto atribui o primado temporal ao presente, no qual surge o si próprio, Heidegger privilegia o porvir. (Casanova; MACMundo1:Nota:17)


Culminated in Hegel, subject-ist metaphysics reaches its ultimate consummation in Nietzschean nihilism (Nihilismus). On the one hand, Nietzsche sees that the old supra-sensible (meta-physical) values have lost their meaning for nineteenth century Europe, and, to the extent that he takes God (Gott) to be the symbol of these values, God (Gott) is certainly dead. On the other hand, his own effort at revaluation remains itself a metaphysics, for the Will-unto-Power, posing as it does new values (truth and art), is eminently a subject-ism (Subjektität). The only change is in the way in which the present-ative subject is conceived: now it is Universal Will. Nietzsche fails, then, to overcome metaphysical nihilism (Nihilismus). In fact, he adds to its momentum, for to the extent that his super-man (Übermensch) responds to the exigencies of Being (Sein) conceived as Will-unto-Power (Wille zur Macht), he seeks (and must seek) domination over the earth (Erde). This he achieves principally through scientific progress. Such is the meaning of the “technicity (Technik)” which crystallizes for contemporary society the forgetfulness of the Being-dimension in beings (Seiende), of the ontological difference. The measure of Nietzsche’s failure is his inability to escape the subject-object polarity. This can be done only by a type of thinking that can transcend subject-ism (Subjektität), meditate the essence of metaphysics by going beyond it to think that which metaphysics invariably forgets: the sense of Being (Seinssinn) itself. (RHPT:19)



Escritor e filósofo alemão. Cursou seus estudos nas Universidades de Bonn e Leipzig, onde se especializou em filologia clássica, entusiasmando-se com a filosofia de Schopenhauer e a música de Wagner. Em 1870 foi nomeado professor de filologia clássica em Basileia, atividade que deixou em 1878 por grave enfermidade. O restante de seus dias esteve em Sils Maria, na Riviera, e em diversas cidades da Itália e da Alemanha, quase sempre solitário e rodeado, às vezes, de seus escassos amigos e discípulos. Na última década de sua vida foi vítima de um obscurecimento mental e paralisia, fruto de uma depressão nervosa que vinha sofrendo há muitos anos.

No pensamento e atividade de Nietzsche costumam distinguir-se três períodos. O primeiro — que vai desde seus estudos até 1878 — caracteriza-se por seus primeiros trabalhos de interpretação e crítica da cultura do Ocidente e do cristianismo, e pela exaltação e devoção que sente por Schopenhauer e Wagner. Deste período são as suas obras: A origem da tragédia (1872); A filosofia na época trágica dos gregos (1874) e Considerações intempestivas (1875-1876). No segundo — a partir da ruptura com Wagner (1878) — manifesta sua exaltação pela cultura e espírito livres. Está representado por obras como Humano, demasiado humano (1876-1880); Aurora (1881); .4 gaia ciência (1882). Finalmente, o terceiro, chamado período de Zaratustra ou da vontade de poder, com obras como Assim falou Zaratustra (1883); Para além do bem e do mal (1889); Genealogia da moral (1887). A essas seguiram-lhe outras bem conhecidas como O anticristo; O imoralista; A vontade de poder; Ensaio de uma transmutação de todos os valores; O niilismo europeu; Os princípios de uma nova escala de valores, e os aforismos definitivos sobre o Eterno retorno.

Apesar desses períodos de seus contrastes e contradições, os críticos encontraram em Nietzsche uma unidade de pensamento em toda a sua obra. Reduzida a um esquema, poderia ser o seguinte: a) A distinção entre o apolíneo e o dionisíaco na cultura grega e em toda a cultura ocidental leva-o a uma exaltação de Dionísio como “afirmação religiosa da vida total, não renegada nem fragmentada”. É a exaltação do mundo tal como ele é, sem diminuição, sem exceção e sem eleição: exaltação infinita da vida infinita, b) A inversão dos valores — na qual Nietzsche via a sua missão e o seu destino — aparece em sua obra como uma crítica da moral cristã, reduzida por ele substancialmente à moral da renúncia e do ascetismo. A moral cristã é a rebelião dos inferiores, das classes subjugadas e escravas, contra a casta superior e aristocrática. Seu verdadeiro fundamento é o ressentimento: o ressentimento daqueles a quem é proibida a verdadeira reação da ação, e que encontram sua compensação numa vingança imaginária, c) Os fundamentos da moral cristã: o desinteresse, a abnegação, o sacrifício são o fruto do ressentimento do homem fraco diante da vida. d) O tipo ideal da moral corrente, o homem bom, existe somente às custas de uma fundamental mentira: negar a realidade, tal como está feita. O último resultado é negar a vida, não aceitá-la. e) Como contraposição, Nietzsche exalta tudo o que é terreno, corpóreo, anti-espiritual, irracional. “Eu ensino aos homens uma vontade nova: seguir voluntariamente o caminho que os homens seguiram cegamente, aprovar esse caminho e não tentar refugiar-se como os doentes e decrépitos” (Assim falou Zaratustra). Tal é a vontade de viver ou de poder: porque a vida é o valor supremo.

Para a conquista da vida e do mundo, Nietzsche propõe o eterno retorno e o super-homem. Porque o “eterno retorno” nada mais é do que o sim que o mundo diz a si próprio, é a auto-aceitação do mundo, a vontade cósmica de reafirmar-se e de ser ela mesma: expressão cósmica daquele espírito dionisíaco que exalta e bendiz a vida. “Esse mundo tem em si uma necessidade, que é sua vontade de reafirmar-se e, por isso, voltar eternamente sobre si mesmo.”

E se a fórmula do “eterno retorno” é a fórmula central, cósmica, do filosofar de Nietzsche, a do super-homem é a sua palavra final. “O homem deve ser superado — diz Zaratustra — . O super-homem é o sentido e o fim da terra. É a expressão e encarnação da vontade de poder. Portanto, o homem deve ser superado.” O que significa que todos os valores da moral corrente — que é moral gregária — devem ser transmudados. Para conseguir esse super-homem, deve-se renunciar aos valores constitutivos da cultura ocidental: a filosofia, a metafísica e a ética platônicas, juntamente com a contribuição judaico-cristã a ela.

Nietzsche propõe um niilismo absoluto e total para a consecução do super-homem. Consiste em fazer tabula rasa de todo pensamento filosófico grego e cristão. O super-homem exige a morte de Deus, do Deus dos metafísicos, do Deus monoteísta, do Deus moral das contraposições metafísicas entre o bem e o mal, mundo real e mundo aparente. Somente assim será possível a liberdade, característica do super-homem. Somente assim se construirá uma vida e uma moral acima e além do bem e do mal.

Dificilmente se pode dizer, em poucas palavras, o que significou e ainda significa Nietzsche para o cristianismo. Filósofo da “suspeita”, assim como Marx e Freud, “criou uma filosofia onde não há um acontecer objetivo, uma garantia estável, onde Deus morreu e onde o homem só pode existir como super-homem”. Nietzsche quis realizar o infinito para o homem e no homem. Transmudou os valores eternos pelos do mundo.

BIBLIOGRAFIA: Obras em português: O Anticristo; Crepúsculo dos ídolos; A genealogia da moral; A origem da tragédia; Assim falava Zaratustra; A minha irmã e eu; Além do bem e do mal; Ecce Homo: como cheguei a ser o que sou e outras; Eugen Fink, La filosofia de N, 1969; Gonzalo Sobejano, Nietzsche en Espana, 1967. (Santidrián