modos de ser

(…) Certamente, uma interpretação mais exata da existência é capaz de mostrar que o homem (Mensch) “de mais a mais também vive”, mas que o que constitui o modo de ser (Seinsart) do animal e da planta como vida (Leben) recebe no interior da existência do homem, porquanto ele possui um corpo (Leib), um sentido totalmente diverso e próprio. Diferentemente do modo de ser das coisas (Seinsart der Dinge) como, por exemplo, as pedras e os cascalhos, coisas como o giz, o apagador, o quadro-negro, a porta, a janela possuem um modo de ser (Art zu sein) totalmente diverso que designamos como o seu ser à mão (Zuhandensein). Além disso, há coisas do gênero do espaço e do número que tampouco se mostram como um nada e, uma vez que são algo, acabam de alguma forma sendo; deles dizemos que são consistentes (bestehen); eles possuem consistência (Bestand). Desse modo, considerando esses diversos tipos de ser do ente (Arten des Seins des Seienden), podemos realizar a divisão da seguinte forma: o existente (Existierende), os homens; o vivente (Lebende): as plantas e os animais; o ente por si subsistente (Vorhandene): as coisas materiais; as coisas que são à mão (Zuhandene): as coisas de uso no sentido mais amplo possível; as coisas que são consistentes (Bestehende): o número e o espaço. Segundo esses tipos fundamentais de ser (Grundarten des Seins), podemos caracterizar âmbitos (Bereiche) ônticos, apesar de o aspecto desses âmbitos não ser essencial e primário. O existente, o vivente, o por si subsistente, o que é à mão não são âmbitos impelidos a enfileirar-se um ao lado do outro. Ao contrário, eles são apenas conceitos metódicos de apreensão (methodische Auffassungsbegriffe). Completamente diversa dessa apreensão (Auffassung) da natureza é a “natureza” no sentido de cosmos ou como conceito oposto à arte; esse problema tem, contudo, um lugar totalmente distinto. (tr. Casanova; GA27:71-72)