ser do ente

O ser do ente, no entanto, nunca reside no fato de que, levado diante do homem enquanto elemento objetivo se veja disposto em seu setor de atribuição e disponibilidade e somente consiga ser deste modo. A interpretação moderna do ente é ainda mais alheia do mundo grego. Uma das mais antigas sentenças do pensamento grego sobre o ser do ente diz assim: to gar auto noein estin te kai einai. Esta frase de Parmênides quer dizer que a percepção do ente pertence ao ser porque é ele que a exige e determina. O ente é aquilo que surge e se abre e que, enquanto aquilo que está presente, vem ao homem como para aquele que está presente, isto é, vem àquele que se abre, ele mesmo, ao presente desde o momento em que o percebe. O ente não ascende ao ser pelo fato de que o homem o tenha contemplado primeiro, no sentido, por exemplo, de uma representação como as da percepção subjetiva. É, antes, o homem o que é contemplado pelo ente, por isso se abre à presença reunida em torno dele. Contemplada pelo ente, incluída e contida dentro de seu espaço aberto e suportada deste modo por ele, envolvida em suas resistências e marcada por sua ambiguidade: está era a essência do homem durante a grande época grega. Por isso, a fim de levar a sua essência para o seu acabamento, este homem tinha de reunir (legein) isso que se abre para si mesmo em seu espaço aberto, salvá-lo (sozein) mantendo unido e preservá-lo para permanecer assim desvelado (aletheuein) diante de todas dissensões da confusão. O homem grego é enquanto percebe o ente, motivo pelo qual na Grécia o mundo não podia converter-se em imagem (Bild). Em contrapartida, o fato de que só para Platão a entidade do ente se determine como eidos (aspecto, forma), é o pressuposto que desde sempre condicionou e que de uma maneira oculta e mediada reinou durante muito tempo para que o mundo (Welt) pudesse se converter em imagem (Bild). (DZW)