Aristóteles assim resume sua participação dos múltiplos significados da palavra arché: pasõn mèn oun koinón tõn archõn tó prõton eínai hóthen è éstin è gígnetai è gignósketai. (NA: Metafísica, Delta 1, 10B a 17 ss.) Com isto são postas em relevo as modificações daquilo que costumamos designar “fundamento”: fundamento da essência (Was-sein), da existência (Dass-sein) e da verdade (Wahr-sein). Mas, além disso, ainda se procura captar aquilo em que estes “fundamentos” como tais concordam. Seu koinón é tb prõton hóthen, o primeiro, a partir de que… Ao lado desta tríplice articulação dos “princípios” supremos, se encontra uma quadripartição do aítion (“causa”) em hypokeímenon, tó tí en eínai, archè tes metaboles e hou héneka (NA: Op. cit., Delta 2, 10Bb 16 ss), que, na posterior história da “metafísica” e “lógica”, mantiveram seu papel de guias. Ainda que se reconheçam os ponta tà aítia como archaí, a conexão interna entre a participação e seu princípio permanece obscura. E é de duvidar que se possa encontrar a essência do fundamento pela via de uma caracterização daquilo que é “comum” aos “modos” de “fundar”, ainda que não se deva desconhecer que nisto reside o impulso para uma originária elucidação de fundamento em geral. Aristóteles também não se satisfez em ver as “quatro causas” apenas como ajuntadas, mas se empenhou na compreensão de sua conexão e numa fundamentação do número de quatro. Isto revela, tanto sua análise exaustiva em Física B, como, antes de tudo, também a discussão “histórico-problemática” da questão das “quatro causas” em Metafísica A 3-7, que Aristóteles conclui com a seguinte constatação: hóti mèn oun orthõs dióristai perì tõn aítion kai pósa kaì posa, martyrein eoíkasin hemin kaì houtoi pántes, ou dynámenoi thigein álles aítias, prós dè toútois hóti zetetéai hai archaì è hoútos hápasai è tinà trópon toiouton, délon (NA: Op. cit., A 7, 988b 16 ss.). SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO
Os possíveis graus e derivações da verdade ontológica no sentido mais amplo traem, ao mesmo tempo, a riqueza daquilo que, como verdade originária, fundamenta toda a verdade ôntica. (Quando hoje se toma em consideração “ontologia” e “ontológico” como clichê e nome para movimentos, então tais expressões são usadas com bastante superficialidade e com desconhecimento de qualquer problemática. É-se da opinião falsa de que ontologia como questionamento do ser do enteente significa “postura realista” (ingênua ou critica) em oposição a “idealista”. Problemática ontológica tem tão pouco a ver com “realismo” que justamente Kant em e com seu questionamento transcendental pode realizar o primeiro passo decisivo para uma expressa fundamentação da ontologia, desde Platão e Aristóteles. Pelo fato de a gente se empenhar pela “realidade do mundo exterior” não se está ainda orientado ontologicamente. “Ontológico” – tomado no sentido popular-filosófico – significa, contudo – e nisto se revela sua desesperada confusão -, isto que muito antes deve ser chamado de ôntico, isto é, uma postura, que deixa o ente ser em si, o que e como ele é. Mas com isto não se levantou ainda nenhum problema do ser, e muito menos se conquistou assim o fundamento para a possibilidade de uma ontologia. (N. do A.)) Desvelamento do ser é, porém, sempre verdade do ser<ser do ente, seja este efetivamente real ou não. E vice-versa, no desvelamento do ente já sempre reside um desvelamento de seu ser. Verdade ôntica e ontológica sempre se referem, de maneira diferente, ao ente em seu ser e ao ser do ente. Elas fazem essencialmente parte uma da outra em razão de sua relação com a diferença de ser e ente (diferença ontológica). A essência ôntico-ontológica da verdade em geral, desta maneira necessariamente bifurcada, somente é possível junto com a irrupção desta diferença. Se, entretanto, de outro lado, o elemento característico do ser-aí reside no fato de se relacionar com o ente compreendendo o ser, então o poder distinguir, em que a diferença ontológica se torna fática, deve ter lançado a raiz de sua própria possibilidade no fundamento da essência do ser-aí. A este fundamento da diferença ontológica designamos, já nos antecipando, transcendência do ser-aí. SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO