(in. Jansenism; fr. Jansénisme, al. Jansenismus; it. Giansenismó).
Doutrina do bispo Cornélio Jansênio (1585-1638), exposta na obra Augustinus. Trata-se de uma tentativa de reforma católica através do retorno às teses de S. Agostinho sobre a graça. Segundo Jansênio, a doutrina agostiniana implica que o pecado original tirou do homem a liberdade de querer, tornou-o incapaz para o bem e inclinado necessariamente ao mal. Deus só concede aos eleitos, pelos merecimentos de Cristo, a graça da salvação. Jansênio confrontava essas teses com o relaxamento da moral eclesiástica, especialmente jesuítica, segundo a qual a salvação está sempre ao alcance do homem que, vivendo no seio da Igreja, possui uma graça suficiente, que o salvará se for favorecida pela boa vontade. Esta era a tese do jesuíta espanhol Molina (1535-1600), em que os jesuítas basearam o seu proselitismo, que visava a conservar no seio da Igreja o maior número possível de pessoas. No dia 31 de maio de 1653 uma bula do papa Inocêncio X condenou cinco proposições nas quais a Faculdade Teológica de Paris condensara a doutrina do Augustinus de Jansênio. A favor de Jansênio estavam Antoine Arnauld e os denominados “solitários de Port-Royal”. Estes julgaram que as cinco proposições condenadas não expressavam o pensamento de Jansênio e que, portanto, condenação não dizia respeito ao jansenismo. Em favor disto Pascal publicou, em 1656, as Cartas provinciais. O jansenismo continuou circulando por algum tempo em ambientes religiosos italianos e franceses (cf. F. Ruffini, Studi sul giansenismó, Firenze, 1947). (Abbagnano)
A doutrina de Jansênius (1585-1638), autor do Augustinus (1640) e seus discípulos. — O jansenismo retoma e desenvolve o ponto de vista dos “agostinianos” (contra os “molinistas”), segundo os quais a graça é um puro dom divino, que desce sobre o indivíduo independentemente de qualquer participação da liberdade humana. As teses do Augustinus foram retomadas na França por Duvergier de Hauranne, abade de Saint-Cyran, diretor espiritual do mosteiro de Port-Royal. A querela do Augustinus, pelo qual o Grande Arnauld tomou abertamente partido, durou até a Revolução francesa: combatido por Mazarino (1656-1664), tolerado por Louis XIV (1669-1679), perseguido em 1709 (ano em que Port-Royal foi definitivamente destruído), o jansenismo permaneceu um núcleo de oposição ao absolutismo da monarquia e o fermento do galicismo parlamentar. Uma Igreja jansenista, fundada em 1724, subsiste ainda em Utrecht. (Larousse)
Jansênio, Cornélio (1585-1638)
Com o nome latinizado Cornélius Jansenius surgiu uma figura polêmica e por trás dela uma corrente de pensamento e de espiritualidade conhecida como jansenismo. Essa corrente causou duras lutas e paixões de pessoas e instituições eclesiásticas, praticamente ao longo de dois séculos. Boa parte dessas lutas têm como centro o mosteiro de freiras cistercienses de Port-Royal, o mosteiro próximo a Paris, onde se aprenderam e de onde se difundiram as ideias de Jansênio. Sem identificar ambos os movimentos, é comum falar deles como se fossem a mesma coisa. Falaremos, pois, de Jansênio, os jansenistas ou port-royalistas, e de sua doutrina. Os autores e a literatura implicados nesta contenda são altamente significativos.
Cornélius Otto Jansen nasceu em Acquoi (Holanda). Ingressou na Universidade de Lovaina para estudar teologia, em 1602. Nela recebeu a doutrina de Miguel Bayo, morto em 1589, mas cuja influência ainda se deixava sentir. Segundo Bayo, o homem fica de tal forma afetado pelo pecado de Adão, desde o seu nascimento, que é arrastado necessariamente ao mal. Somente a graça de Cristo pode salvá-lo, graça dada somente aos poucos que foram predestinados ao reino dos céus. Essa doutrina definitivamente causou impacto a Jansênio e a outro companheiro seu chamado Jean Duvergier de Hauranne (1581-1643), conhecido como abade Saint-Cyran. Finalizados os seus estudos, ambos decidiram renovar a teologia como homenagem devida a Deus pelos homens, já que o orgulho dos sábios do Renascimento havia afastado os cristãos de Jesus que se comprazia nos simples e humildes de coração.
Depois de alguns anos dedicados ao ensino (1612-1616), voltou a Lovaina, onde dirigiu o colégio de Santa Pulquéria, criado para estudantes holandeses. Era o momento da violenta disputa entre os seguidores de Bayo e os jesuítas. Nele se dedicou à leitura e ao estudo das obras de Santo Agostinho, que, como ele mesmo nos diz, leu “dez vezes consecutivas”. Interessou-se particularmente pelos textos, dirigidos pelo santo, contra os pelagianos. Foi então quando começou sua grande obra, o Augustinus. Esse livro custou-lhe 22 anos de esforço. Foi publicado depois de sua morte, em 1638, após ter sido reitor da Universidade de Lovaina e bispo de Yprès.
Foram esquecidas, praticamente, todas as demais obras e folhetos, em particular os comentários aos evangelhos e ao Pentateuco. Desde sua publicação em 1640, o Augustinus transformou-se num ponto de referência obrigatório para jansenistas e seus contrários. Qual era sua doutrina? Esta ficou resumida nas cinco proposições condenadas: 1) alguns preceitos divinos não podem ser cumpridos pelos justos apenas com a força da natureza humana, portanto, lhes é necessária a graça; 2) a graça interior, que opera sobre a natureza corrompida, é irresistível; 3) para o mérito ou demérito se requer unicamente a Uberdade da coação externa; 4) os pelagianos ou semipelagianos são hereges, visto que admitem a possibilidade de a vontade humana resistir ou obedecer à graça; 5) é errado afirmar que Cristo morreu por todos os homens. Essas proposições, elaboradas pelos teólogos jesuítas foram contestadas pelos port-royalistas. Receberam uma primeira condenação em 1641. Em 1643, Arnauld pediu em seu livro Da comunhão frequente uma reforma moral e eclesiástica congruente com as doutrinas jansenistas. Em 1653, Inocêncio X condenou as cinco proposições. Desde então e até a primeira metade do séc. XVIII continuou a polêmica jansenista. Alguns aceitaram as disposições papais, os “aceitantes”; outros apelaram, os “apelantes”. Nesta luta estiveram envolvidas figuras como Arnauld, Nicole, Pascal, Quesnel, Saint-Cyran (1634-1719) e outros. A luta jansenista transpassou as fronteiras dos Países Baixos. Em 1723 constituiu-se a Igreja Autônoma Jansenista, que ainda existe. Em 1786, o Sínodo de Pistoia defendeu as teses mais extremistas do jansenismo.
— Além de comportar uma dogmática, tal como o apontamos, o jansenismo comporta também uma moral e uma ascética rigorista. É o que se qualificou de “vontade sombria” do jansenismo. Essa vontade pessimista e sombria dos “solitários” de Port-Royal passou para suas escolas e métodos, dando a todo o movimento jansenista um ar de rigidez característica.
BILBIOGRAFIA: J. Orcibal, Les origines du Jansénisme, 7 vols. publicados entre 1957-1965. Para o Jansenismo na Espanha: M. Menendez y Pelayo, Historia de los Heterodoxos Españoles, III. El jansenismo regalista en el siglo XVIII (BAC). (Santidrián)
Jansênio, Cornélio (1585-1638)
Com o nome latinizado Cornélius Jansenius surgiu uma figura polêmica e por trás dela uma corrente de pensamento e de espiritualidade conhecida como jansenismo. Essa corrente causou duras lutas e paixões de pessoas e instituições eclesiásticas, praticamente ao longo de dois séculos. Boa parte dessas lutas têm como centro o mosteiro de freiras cistercienses de Port-Royal, o mosteiro próximo a Paris, onde se aprenderam e de onde se difundiram as ideias de Jansênio. Sem identificar ambos os movimentos, é comum falar deles como se fossem a mesma coisa. Falaremos, pois, de Jansênio, os jansenistas ou port-royalistas, e de sua doutrina. Os autores e a literatura implicados nesta contenda são altamente significativos.
Cornélius Otto Jansen nasceu em Acquoi (Holanda). Ingressou na Universidade de Lovaina para estudar teologia, em 1602. Nela recebeu a doutrina de Miguel Bayo, morto em 1589, mas cuja influência ainda se deixava sentir. Segundo Bayo, o homem fica de tal forma afetado pelo pecado de Adão, desde o seu nascimento, que é arrastado necessariamente ao mal. Somente a graça de Cristo pode salvá-lo, graça dada somente aos poucos que foram predestinados ao reino dos céus. Essa doutrina definitivamente causou impacto a Jansênio e a outro companheiro seu chamado Jean Duvergier de Hauranne (1581-1643), conhecido como abade Saint-Cyran. Finalizados os seus estudos, ambos decidiram renovar a teologia como homenagem devida a Deus pelos homens, já que o orgulho dos sábios do Renascimento havia afastado os cristãos de Jesus que se comprazia nos simples e humildes de coração.
Depois de alguns anos dedicados ao ensino (1612-1616), voltou a Lovaina, onde dirigiu o colégio de Santa Pulquéria, criado para estudantes holandeses. Era o momento da violenta disputa entre os seguidores de Bayo e os jesuítas. Nele se dedicou à leitura e ao estudo das obras de Santo Agostinho, que, como ele mesmo nos diz, leu “dez vezes consecutivas”. Interessou-se particularmente pelos textos, dirigidos pelo santo, contra os pelagianos. Foi então quando começou sua grande obra, o Augustinus. Esse livro custou-lhe 22 anos de esforço. Foi publicado depois de sua morte, em 1638, após ter sido reitor da Universidade de Lovaina e bispo de Yprès.
Foram esquecidas, praticamente, todas as demais obras e folhetos, em particular os comentários aos evangelhos e ao Pentateuco. Desde sua publicação em 1640, o Augustinus transformou-se num ponto de referência obrigatório para jansenistas e seus contrários. Qual era sua doutrina? Esta ficou resumida nas cinco proposições condenadas: 1) alguns preceitos divinos não podem ser cumpridos pelos justos apenas com a força da natureza humana, portanto, lhes é necessária a graça; 2) a graça interior, que opera sobre a natureza corrompida, é irresistível; 3) para o mérito ou demérito se requer unicamente a Uberdade da coação externa; 4) os pelagianos ou semipelagianos são hereges, visto que admitem a possibilidade de a vontade humana resistir ou obedecer à graça; 5) é errado afirmar que Cristo morreu por todos os homens. Essas proposições, elaboradas pelos teólogos jesuítas foram contestadas pelos port-royalistas. Receberam uma primeira condenação em 1641. Em 1643, Arnauld pediu em seu livro Da comunhão frequente uma reforma moral e eclesiástica congruente com as doutrinas jansenistas. Em 1653, Inocêncio X condenou as cinco proposições. Desde então e até a primeira metade do séc. XVIII continuou a polêmica jansenista. Alguns aceitaram as disposições papais, os “aceitantes”; outros apelaram, os “apelantes”. Nesta luta estiveram envolvidas figuras como Arnauld, Nicole, Pascal, Quesnel, Saint-Cyran (1634-1719) e outros. A luta jansenista transpassou as fronteiras dos Países Baixos. Em 1723 constituiu-se a Igreja Autônoma Jansenista, que ainda existe. Em 1786, o Sínodo de Pistoia defendeu as teses mais extremistas do jansenismo.
— Além de comportar uma dogmática, tal como o apontamos, o jansenismo comporta também uma moral e uma ascética rigorista. É o que se qualificou de “vontade sombria” do jansenismo. Essa vontade pessimista e sombria dos “solitários” de Port-Royal passou para suas escolas e métodos, dando a todo o movimento jansenista um ar de rigidez característica.
BILBIOGRAFIA: J. Orcibal, Les origines du Jansénisme, 7 vols. publicados entre 1957-1965. Para o Jansenismo na Espanha: M. Menendez y Pelayo, Historia de los Heterodoxos Españoles, III. El jansenismo regalista en el siglo XVIII (BAC). (Santidrián)