(in. Irreversible; fr. Irréversible; al. Irreversibel; it. Irreversibilé).
Caráter das relações simétricas e dos processos que têm sentido determinado. Platão, no mito do Político, afirmou a reversibilidade do devir cósmico, declarando que o mundo, uma vez atingindo o termo do tempo que lhe foi designado, “recomeça a girar em sentido contrário”, ou seja, inverte a ordem do tempo. Isto acontece porque o mundo é, por um lado, a coisa mais perfeita possível, mas, por outro, é um corpo e, como tal, sujeito a mudanças. “Por isso, seu destino é refazer seu giro em sentido inverso, sendo essa ‘a mínima mudança possível do seu movimento’” (Pol., 269 c-e). Esse conceito, de que a reversibilidade do processo cósmico se deve à exigência de realizar a maior identidade possível consigo mesmo, era expresso por Leibniz nos termos da ciência do seu tempo. Leibniz dizia: “A sabedoria suprema de Deus levou-o escolher sobretudo as leis do movimento mais aptas e mais convenientes às razões abstratas ou metafísicas. No universo, conserva-se a mesma quantidade de força total absoluta ou de ação, a mesma quantidade de força respectiva ou de reação; a mesma quantidade de força diretiva. Além disso, a ação é sempre igual à reação e o efeito inteiro é sempre equivalente à sua causa plena” (Princ. de la nature et de la grâce, 1714, Op., ed. Erdmann, p. 716). Essa equivalência perfeita entre a causa e o efeito significa a reversibilidade do processo causal. A mecânica clássica admite essa reversibilidade. As equações que exprimem o comportamento dos fenômenos mecânicos não dão indicação alguma sobre o sentido em que o tempo transcorre. O t dessas equações é uma variável contínua que não tem sentido determinado, e isso significa que todo fenômeno mecânico é reversível. A irreversibilidade dos fenômenos foi introduzida com a descoberta do segundo princípio da termodinâmica (chamado de Princípio de Carnot, 1824), segundo o qual o calor passa apenas do corpo mais quente para o corpo mais frio. Nesse caso, quando com essa passagem se alcança o equilíbrio da temperatura, é impossível voltar atrás. Do sistema em equilíbrio não é possível voltar ao sistema do desequilíbrio térmico, que só possibilita a passagem do calor e, portanto, o trabalho mecânico. Um sistema em equilíbrio térmico não pode fornecer trabalho mecânico. Com isso estabelece-se a irreversibilidade dos fenômenos naturais que, sob certo aspecto, são todos fenômenos térmicos. O Princípio de Carnot excluiu, assim, a imagem do devir do mundo que os antigos acreditavam realizar-se ciclicamente, retornando sobre si mesmo.
A irreversibilidade dos fenômenos naturais levou a pensar na morte inevitável do universo, quando fosse atingido o equilíbrio térmico que impossibilitasse qualquer transformação e, portanto, a vida. Foram numerosas as doutrinas que aventaram hipóteses que tentavam entrever sorte diferente para o nosso universo (cf. sobre elas Meyerson, De l’explication dans les sciences, 1927, pp. 203 ss.). Mas na verdade tanto a previsão da catástrofe quanto a das possíveis vias de salvação vão muito além do que é permitido pelo alcance do princípio de Carnot e, em geral, por um princípio científico. Este de fato vale somente para sistemas fechados ou pelo menos relativamente isolados, sendo um instrumento de previsão para esses sistemas, e não para o universo ou o mundo, que são uma totalidade aberta ou infinita. Em sentido diferente e positivo, o significado filosófico de irreversibilidade foi ilustrado por E. Paci, Tempo e relazione, 1954, cap. VI e passim (v. entropia). [Abbagnano]