inteligibilidade do mundo

Para Aristóteles o mundo, este mundo em que vivemos, o mundo sensível das coisas tangíveis e visíveis, é ao mesmo tempo um mundo inteligível. As substâncias “são”, existem, e além de ser e existir, são inteligíveis; nós podemos compreendê-las. E por que podemos compreendê-las? Podemos compreendê-las porque foram feitas, inteligentemente. Se não tivessem sido feitas racionalmente, inteligentemente, seriam para nós incompreensíveis. Por que são para nós compreensíveis? Pois porque têm e estão impregnadas de inteligibilidade. São inteligíveis porque seu ser se decompõe no ser puro e simples existencial e na essência inteligível, a velha ideia de Platão, que desceu do céu à terra para juntar-se com a existência e dar a substância.

Perdura vivo em Aristóteles o postulado parmenídico de que o ser é inteligível, de que o ser é idêntico ao pensar, de que entre o ser e o pensar não há diferença radical. Para Aristóteles também a natureza, o mundo, as coisas são inteligíveis. Podemos compreendê-las, quer dizer, conhecer suas essências. Concebemo-las metafisicamente, como impregnadas de inteligibilidade e essa impregnação se deve à sua origem inteligente; são obra de um Deus inteligente. Por isso Aristóteles necessitava que sua metafísica culminasse em teologia. A teologia de Aristóteles é a garantia da inteligibilidade do real. Sem Deus não compreenderíamos por que acaso são inteligíveis as coisas. As coisas são inteligíveis, nós as entendemos, as compreendemos, temos delas uma noção satisfatória e isso demonstra a existência de Deus porque do contrário se nós tivéssemos da coisa a inteligência e a compreensão e Deus não existisse, não se compreenderia como as coisas são em si mesmas inteligíveis. São porque Deus pôs nelas sua inteligência. Por isso Deus, de sua parte, é pura inteligência, puro pensamento, pensamento de si mesmo que, ao pensar seus próprios pensamentos, põe nas coisas a inteligibilidade.