A ausência de determinismo nos fenômenos da natureza. — Na ciência moderna, e particularmente na ciência atômica, o indeterminismo designa a impossibilidade de prever-se os movimentos de um eléctron, mas não de um feixe de eléctrons: o indeterminismo é sinônimo de determinismo estatístico (isto é, a previsão se exerce sobre um conjunto de elementos, não sobre um elemento isolado); poder-se-ia ainda falar de determinismo global. Do ponto de vista filosófico, pode-se considerar o indeterminismo como uma característica da natureza (indeterminismo “material”), ou ainda como o simples efeito da limitação de nosso conhecimento da natureza (indeterminismo “formal”). Não há relação, entretanto, com qualquer prova em favor da liberdade humana. (V. determinismo.) [Larousse]
De modo muito geral, chama-se indeterminismo a toda a doutrina segundo a qual os acontecimentos de qualquer índole que sejam não estão determinados. Segundo o determinismo, tudo acontece necessariamente. Segundo o indeterminismo, nada acontece necessariamente, ou alguns acontecimentos pelo menos verificam-se de modo “não necessário”. Assim, o indeterminismo contrapõe-se, em todos os casos, ao determinismo; o sentido de indeterminismo depende em grande medida do significado dado a determinismo. Aos vários sentidos do termo determinismo correspondem outros tantos sentidos de indeterminismo. Pode falar-se de um indeterminismo geral, e de indeterminismos especiais. O indeterminismo geral refere-se a quaisquer acontecimentos; em todo o caso, abarca por igual os acontecimentos físicos e os psíquicos. Dos indeterminismos especiais destacam-se dois: um, chamado “indeterminismo físico”, e outro chamado, conforme os casos, indeterminismo especial e indeterminismo espiritualista. Na maior parte dos casos, este último tipo de indeterminismo tem em conta atos ou ações nos quais vão implicadas as ideias de mérito, culpa, responsabilidade, etc.
Em certas ocasiões tem-se identificado as doutrinas indeterministas com as que defendem o livre arbítrio. Alguns autores identificam o indeterminismo com a afirmação da liberdade, sempre que esta seja entendida como um ato radical de “pôr a si mesmo”, de “auto-afirmar-se”, enquanto existência. [Ferrater]
(in. Indeterminism; fr. Indéterminisme, al. Indeterminismus; it. Indeterminismò).
Termo introduzido na linguagem filosófica na segunda metade do séc. XVIII para designar a doutrina que nega o determinismo dos motivos, ou seja, a determinação da vontade humana por parte dos motivos. Leibniz dizia: “Quando se afirma que um acontecimento livre não pode ser previsto, confunde-se liberdade com indeterminação ou com indiferença plena ou de equilíbrio; e quando se quer dizer que a falta de liberdade impediria que o homem fosse culpado, faz-se referência a uma liberdade destituída de necessidade e de coação, e não de determinação ou certeza” (Théod., III, 369). Kant afirmava: “Não há dificuldade em conciliar o conceito de liberdade com a ideia de Deus como ser necessário, porque a liberdade não consiste na contingência da ação (no fato de a ação não ser determinada por nenhum motivo, ou seja, no indeterminismo), mas na absoluta espontaneidade que só é ameaçada pelo pré-determinismo, uma vez que para ele o motivo determinante da ação é antecedente no tempo; portanto, a ação não está mais atualmente em meu poder, mas nas mãos da natureza e, por esse motivo, sou irresistivelmente determinado” (Religion, I. Observação Geral, Nota). O indeterminismo compreendido nesse sentido, como negação do determinismo dos motivos, é uma das características do espiritualismo francês (Ravaisson, Lachelier, Boutroux, Hamelin, Bergson etc. Compare A. Levi, L’indeterminismo nella filosofia francese contemporanea, Firenze, 1904) (V. liberdade). [Abbagnano]