Para Hume, a ideia de substância é uma ideia: qual é a impressão que lhe corresponde? Vejamos; que se apresente essa impressão; que a ideia de substância nos diga qual é sua certidão de legitimidade. Nós olhamos a ideia de substância e encontramos que ela designa aquilo que chame Locke o “não-sei-quê” que está por debaixo das qualidades e dos caracteres. De modo que se eu digo a substância de uma lâmpada, não quer dizer que designe com a palavra “substância” sua cor verde, porque a lâmpada é algo mais que a cor verde; não quero dizer tampouco que designo seu braço, porque a lâmpada é algo mais que um braço: é a cor ademais do braço. Se designa a cor verde, deixa de designar o braço; se designa o braço, deixa de designar a cor verde. Hume faz uma decomposição como quem abre uma laranja em gomos, e mostra perfeitamente que a ideia de substância não está originada por nenhuma das impressões que atualmente eu recebo. Não é também a soma delas; porque por substância não entendemos a soma dessas impressões mas um quid, ou, como diz Locke, um “não-sei-quê” que serve de esteio a todas essas impressões, mas que não é nenhuma delas. Quer dizer, que a ideia de substância não tem impressão da qual possa ser derivada e que a fundamente; e como não tem impressão que a fundamente, é uma ideia formada por nós, é uma ideia fictícia, como diria Descartes, é uma ideia de nossa imaginação. [Morente]