Ver, Visão, Olho
horao, “ver”; horatos, “visível”; ahoratos, “invisível”; horama, “vista”, “visão”; optasia, “visão”; epopteuo, “observar”; kathorao, “olhar”; prohorao, “prever”; blepo, “ver”; theaomai, “contemplar”; theoreo, “observar”; ophthalmos, “olho”.
CL 1. (a) O vb. horao, “ver”, somente se acha nesta forma no pres. e no perf. at. O fut. at. opsomai e o aor. pass. ophthen derivam da raiz op-, e o aor. at. eidon da raiz id-. O vb. é comum desde Homero, e no at. significa “ver”, “olhar”, “perceber”, “observar” (Homero, Od. 4, 540). Mas é achado mais frequentemente (com a prep. ra) com o significado de “olhar em direção a alguma coisa” ou (com o acus.) “ver alguma coisa”. Ésqu. também o emprega no méd.
(b) Já nos tempos de Homero tinha o significado de “conceber” ou “experimentar”, e até mesmo de “estar presente em” ou “participar de”. Em um sentido fig. significa “entender”, “reconhecer”, “considerar”, “atender a” (Tuc., 5,27).
(c) A partir do pass, empregado com um sentido intrans. veio a significar “aparecer”, “tornar-se visível” (cf. o aor. pass. ophthen). Em Sóf. significa, aproximadamente, “seguramente verá”, i.é, “ser-lhe-á mostrado”. O uso pass. está ausente em Homero.
(d) O adj. verbal horatos (desde Hipócrates) e a forma negativa posterior ahoratos (já nos tempos de Políb. e Isóc.) significam “visível” e “invisível” respectivamente (o mundo “invisível”, o Deus “invisível”, etc.).
(e) Três subs. importantes são formados de horao. (i) horasis (desde Aristót.), sinônimo de opsis, designa, de um lado, a capacidade para ver, o órgão da vista, como também o rosto inteiro (Plut. Mor. 88D), e, do outro lado, aquilo que é visto, a “vista”, o “espetáculo”. Emprega-se também com referência ao sobrenatural, (ii) horama (Xen. e Aristót. em diante) significa “aquilo que é visto”, “panorama”, “vista”, “visão”, e assim também o efeito sobre quem vê; aquilo que é visto pode assegurar e capacitar, (iii) optasia, derivada da raiz op-, fica perto de horama quanto ao significado.
(f) Vbs. compostos incluem: (i) prohorao (desde Hdt.) tem o significado de “prever” o futuro, ver alguma coisa que já viu antes, ou (méd.) “ver alguma coisa diante de si”; (ii) kathorao e epopteuo (desde Homero) significam “olhar”, “considerar”, “observar” (para as formas demonstrativas e imperativas derivadas das raízes op- e id-).
2. O subs. ophthalmos, “olho”, é derivado da raiz op-, e tem sido usado abundant mente desde Homero. Não é simplesmente sinônimo com omma, que também significa “olho”, mas tem um uso mais especializado (em Homero, Ésqu., Píndaro, etc. “rosto”; em Píndaro, Platão, etc., no sentido poético do “olho do céu”, o sol e a lua, expressando também as ideias de “luz”, “bem-estar” e “aquilo que traz conforto”).
(a) De modo geral, o ophthalmos, “olho”, é o meio mais sublime de contato com o mundo em derredor. É o órgão da percepção. As sagas gr. (cf. Luciano) continuamente mencionam seres com muitos olhos, e.g. Argo com seus 100 olhos.
(b) Figuradamente, significa aquilo que é mais prezado e amado (cf. a menina dos olhos).
(c) Ao mesmo tempo, o olho é geralmente associado com o relacionamento entre o homem e Deus, seu próximo e o mundo em derredor. E. gr. o “olho da alma” obtém introspecção no cosmos (ver mais abaixo). Conceitos morais associam-se com o olho (assim em Sóf., “olhar com cobiça”, “lançar olhares ciumentos”). Em Ésqu. e Sóf., usa-se no sentido de “estar despertado” ou “estar vigilante”. Às vezes, os olhos eram associados com tarefas e qualidades.
3. blepo, “ver” (desde Píndaro), possui alguns tempos verbais não atestados para horao. Como regra geral, está perto de horao quanto ao significado, mas paulatinamente o substituiu. Quando pode ser distinguido de horao, tem relacionamento com aquilo que fere a vista, que está defronte de quem olha, à frente. Originalmente aplicava-se somente à função dos olhos, “ver”, “olhar”, “observar” (com o acus. da coisa vista). A partir de então, veio a significar “olhar”, “contemplar”, “examinar dentro”, também “atender a”, “prestar atenção a alguma coisa”. Figuradamente, pode significar “observar”, “notar”.
4. theaomai (desde Homero) é derivado de thea, “vista” (cf. theates, “espectador”, e -> theatron, cf. “teatro”; acha-se em Tuc. e Platão), e significa “olhar”, “contemplar”, “observar”, theoreo (desde Ésqu.), também “observar”, “olhar alguma coisa”, empregado de modo absoluto ou com o acus. (Ésqu. Prometeu Preso 304) e tem os significados fig. de “refletir sobre”, “notar”, “compreender”, e no pass. significa ‘tornar-se visível” ou “ser olhado”.
5. (a) Os vbs. de “ver” ou “contemplar” em gr. têm significado religioso e filosófico, porque a religião gr., como a da antiguidade em geral, era uma religião de “ver”. Em contraste com o judaísmo, o papel de escutar é subordinado àquele de ver. “Os gregos eram ‘um povo do olho’” (W. Michaelis, TDNT V 319). Ver era parte integrante da religião deles.
(b) A compreensão da ordem cósmica e do aspecto racional deste mundo era entendida de modo religioso. Aplicava-se não somente ao mundo em grande escala, no sentido do macrocosmo, como também ao mundo em pequena escala, no sentido do microcosmo. O “olho da alma” tem relevância especial aqui.
(c) As ações dos homens eram governadas por esta compreensão do cosmos. Em Platão, Deus é mais um objeto do que um sujeito, e ser visto é predicado dEle. Platão chega ao conceito da visão das ideias (cf., e.g., Meno; Rep.; -> Forma, art. eidos CL). A palavra idea, “aparência”, “imagem”, derivada de idein (desde Píndaro), assume um sentido filosófico e significa o conhecimento de coisas sobrenaturais conseguido pelo espírito: “padrão”, “ideia”, “essência” (assim em Platão, Aristót., Plut.).
(d) De modo geral, a deidade é considerada invisível (cf. o gnosticismo helenista). Mesmo assim, desde Homero achamos a noção de que os deuses são visíveis. Isto acontece na forma humana (antropomorfismo). Os deuses frequentemente circulam na forma corpórea. “Aparecem” em disfarces humanos, e têm qualidades e propensidades humanas, De modo geral, porém, sua invisibilidade ainda é enfatizada. A “visão de Deus” serve como o caminho para tornar-se como os imortais, para ser assimilado aos deuses. [DITNT]