hieros logos

Sabe-se que o ensino ministrado por Pitágoras era oral, pois havia o receio de, ao confiarem-se à escrita os conhecimentos mais profundos, em mãos dos mal-intencionados, pudessem ser utilizados mais para o mal que para o bem. Mas essa afirmativa deve ser considerada em termos, pois o receio era relativo, e tanto assim que se afirmava (e há bases históricas para fundamentar essa afirmação) que Pitágoras havia redigido uma obra em verso, O Hieros Logos (O Discurso Sagrado) no qual, em linguagem simbólica, estariam contidos os fundamentos de sua doutrina. Mas a nítida compreensão do que desejava transmitir estaria condicionada à capacidade de interpretação simbólica. E como esta era proporcionada ao grau de iniciação, o alcance dos conhecimentos expostos seria obtido proporcionadamente ao grau, ou seja, o leitor entende-la-ia apenas dentro das suas possibilidades assimilativas, o que evitaria o perigo de cair o conhecimento em mãos pouco hábeis, que poderia utilizá-los para outros fins, que não os indicados pela ordem pitagórica.

Segundo Diógenes de Laércio, Pitágoras redigira também livros sobre pedagogia, política, física e um poema Peri tou holou (do Todo), cujo tema seria o Cosmos, uma análise de todas as coisas, consideradas em sua unidade. Diz-se que Platão (a peso de ouro) teria conseguido adquirir de Arquitas algumas das obras. Mas a autenticidade pode ser posta em dúvida, pois talvez fossem de discípulos que as atribuíram ao mestre, o que era comum na época. Delas nada restou além de alguns fragmentos esparsos nas obras dos pitagóricos e pitagorizantes.

Diz-se que o Hieros Logos foi primitivamente escrito em verso por Pitágoras e só posteriormente ele o verteu em prosa dória. Afirma-se que a publicação desse livro fora realizado por Telauges, marido de Bitale, neta de Pitágoras, fundado nas notas que ele havia deixado à sua filha Damô. Neste caso, essa obra não teria sido publicada por Pitágoras, mas posteriormente tempos após sua morte. Nos Versos Áureos há reproduções de máximas que devem ter pertencido ao Hieros Logos.

Este seria um trabalho científico e filosófico e, dos fragmentos que lhe são atribuídos, eis alguns trechos:

“Quero cantar para aqueles que podem compreender; fechai, fechai as portas aos profanos”.

“Jovens, adorai num respeitoso silêncio, todas as verdades”.

“Ó raça, que o medo da morte paralisa,

Por que temes o Estige e a sombra e as vãs palavras?

Da mesma forma que a cera, na qual imprimem novas figuras, e que, de certo modo, permanece a mesma, embora não guarde a mesma figura (aspectos), assim a alma permanece sempre igual, embora emigre, eu vos digo, através de novas figuras”.

Tudo muda, tudo se transforma, mas ao mesmo tempo tudo permanece idêntico a si mesmo, através do ritmo unitário dos números.

Tudo obedece a essa lei.

“Quando, tendo deixado o corpo, partires para o éter.

Tornar-te-ás deus imortal, e não morrerás mais.” (Dos Versos Áureos)

Imitar a Deus é o caminho da elevação do homem. Ele está em nós; devemos imitá-lo (hepou theou = sê o deus). E aconselha no peithou, obedece ao espírito e o seguirás, porque, para achá-lo, é preciso seguir o caminho da sabedoria, afastando-se das paixões. Afinal, haveremos de alcançar o Um (hena genesthai), gerar o um de si mesmo, tornar-se íntegro. Só assim alcançaremos a tranquilidade interior e a paz entre os homens. [MFSDIC]