hecceidade

(lat. haecceitas; in. Haecceity; fr. Heccéité; it. Ecceità).

Termo criado por Duns Scot a partir do adjetivo haec, com que se indica uma coisa particular, para designar a individualidade, esta consiste na “realidade última do ente”, que determina e “contrai” a natureza comum (composta de matéria e forma) numa coisa particular, ad esse hanc rem. Esse princípio é invocado por Duns Scot para explicar de que maneira a coisa individual se origina da “natureza comum”, que é indiferente tanto à universalidade quanto à individualidade. Esse termo não se encontra em Opus Oxoniense, que é o maior comentário de Duns Scot às Sentenças, de Pietro Lombardo, mas em Reportata parisiensia (II, d. 12, q. 5, n. 1, 8, 13, 14); foi muito usado pela escola escotista (v. individuação). [Abbagnano]


A rede formada por haecceidade (ou hecceidade), ecceidade e ipseidade nos ultrapassa, nos leva e nos obriga, queiramos ou não. Ela sempre nos ultrapassou. Assim como nos precede e nos ultrapassa a rede mais vasta que relaciona a tríade gocleniana [v. psychologia] nessa outra sequência formada, sob o comando da individuação, pela pessoa, o sujeito, a coisa ou a substância. Os Deleuze e Guattari de Mil Platôs não são os últimos a perceber que, também eles, reanimam, para pensar como novidade, o “velho termohecceidade:

Há um modo de individuação muito diferente daquele de uma pessoa, de um sujeito, de uma coisa ou de uma substância. Nós lhe reservamos o nome de “hecceidade”. Uma estação, um inverno, um verão, uma hora, uma data têm uma individualidade perfeita e que não precisa de mais nada, embora não se confunda com a de uma coisa ou de um sujeito [Cf. G. Deleuze, E Guattari, Mille Plateaux: capitalisme et schizophrénie, vol. 2, cap. X, p. 318.]. [LiberaAS:46]


É nesse sentido que consigo entrar num acordo com o fato de aparecer aqui como uma “figura pública”, para fins de um evento público. Significa que, findos os eventos para os quais a máscara foi criada, e eu tiver acabado de usar e abusar do meu direito individual de soar através da máscara, tudo voltará ao seu lugar mais uma vez. Então eu, extremamente honrada e profundamente agradecida por esse momento, estarei livre, não apenas para trocar os papéis e as máscaras que a grande peça do mundo venha a me oferecer, mas livre até para me mover por essa peça do mundo na minha hecceidade (thisness) nua, identificável, espero, mas não definível e não seduzida pela grande tentação do reconhecimento que, não importa de que forma, só pode nos reconhecer como isto e aquilo, isto é, como algo que fundamentalmente não somos. [ArendtRJ:76]