Tentemos expor como o ser se revela ao filósofo. Não somos os primeiros a fazer essa tentativa. Os gregos muito antes de nós navegaram no mar da vida e nos deixaram uma preciosa tradição de pensamento. O Ocidente vive dessa tradição. Tanto vive que filosofar é tornar-se grego. Não no sentido étnico-geográfico. «Filosofar é tornar-se grego» significa: o pensamento quando pensa se empenha na conquista daquela originária experiência do ser evocada pelo Grego. Traduzir essa experiência, a partir dela mesma, não como um legado vindo de fora, mas de dentro, é estar na fidelidade da tradição filosófica.
A filosofia nesse sentido será sempre grega, pois só filosofa quem fizer o que o grego fez: a experiência originária do ser. O que importa não é apossar-se do acervo material de palavras da linguagem filosófica. Importa a força intensiva com que se vive e a atenta escuta do que se passa numa tal vigorosa disposição existencial de vida.
Grego é todo aquele que integra seu viver numa linguagem significativa, expressa com precisão em conceitos e palavras. A precisão dos conceitos e das palavras flui do sentido desvelado e não da lógica. A filosofia não é uma lógica (ao menos não no sentido moderno), mas uma especial e bem característica precisão de dizer o sentido da realidade. [Arcângelo Buzzi]