filosofias de Wittgenstein

Wolfgang Stegmüller tem razão quando fala em duas filosofias de Wittgenstein. Sem dúvida, já o vimos antes, a problemática fundamental permanece a mesma. No entanto, a perspectiva segundo a qual essa problemática é considerada muda radicalmente na segunda fase do pensamento de Wittgenstein, de tal modo que não se pode considerar esta fase como um desenvolvimento linear da primeira. Muito pelo contrário, Wittgenstein desenvolve seu pensamento na segunda fase como uma crítica radical à tradição filosófica ocidental da linguagem, cuja expressão última havia sido precisamente o Tractatus. Em suma, sua obra da segunda fase encontra-se em fundamental oposição com a da primeira, mesmo que o problema central permaneça o mesmo. Wittgenstein, depois de ter abandonado a filosofia por coerência com o Tractatus, passou por uma lenta e dolorosa transformação espiritual desde mais ou menos 1930 até o fim de sua vida, e as Investigações Filosóficas são, propriamente, a expressão desse itinerário de seu pensamento. Ele se faz, pouco a pouco, implacável crítico de si mesmo e submete todo o seu pensamento a uma crítica rigorosa. A mudança operada em Wittgenstein chegou a exprimir-se na própria exposição de suas ideias. O Tractatus é um exemplo de ordem e de um pensamento concatenado, que controla seus passos. As Investigações Filosóficas são, pelo menos num primeiro momento, ininteligíveis, não tanto em virtude da linguagem (considerada obra-prima da literatura alemã), mas porque dão a impressão de não ter um fio condutor e ser, simplesmente, uma apresentação desordenada do autor sobre os mais diversos temas, isto é, uma espécie de reflexão em voz alta, sem nenhuma coordenação dos pensamentos entre si e sem que o autor, em muitos casos, chegue a exprimir explicitamente o resultado das longas dialéticas de tese e antítese, por meio das quais procura apresentar seu pensamento. [Araújo de Oliveira]