filosofia da essência

A fenomenologia constitui a segunda grande corrente filosófica que, em união com a filosofia da vida, mas sob auspícios totalmente diferentes, provocou a ruptura com o século XIX. Falando com maior exatidão, ela não é mais do que uma das duas tendências do mesmo tipo, derivadas da doutrina de Franz Brentano (1838-1917). A outra tendência é representada por Alexius Meinong (1853-1921), ao qual aderiram Alois Höfler (1853-1922) e Christian Ehrenfels (1850-1932). Elaboraram estes uma teoria do objeto (Gegenstandstheorie) que, em muitos aspectos, se assemelha à fenomenologia. A fenomenologia, incomparavelmente mais importante, foi fundada por Edmund Husserl, (1859-1938), que foi seguido por uma grande escola que conta eminentes representantes, primeiro na Alemanha, mais tarde no mundo inteiro.

Importa sublinhar dois traços fundamentais da fenomenologia. Em primeiro lugar, ela é um método que consiste em descrever o fenômeno, isto é, o que é dado imediatamente. A fenomenologia enquanto tal abstrai das ciências da natureza e opõe-se, portanto, ao empirismo; renuncia também — e nisto opõe-se ao idealismo — a tomar como ponto de partida uma teoria ão conhecimento. Por onde vemos que, como método, aparta-se radicalmente de todos os rasgos dominantes no século XIX. Por outro lado, seu objeto é a essência, ou seja, o conteúdo inteligível ideal dos fenômenos, captado em visão imediata: a intuição da essência (Wesensschau). Também por isto está em oposição com a filosofia do século XIX, a qual não reconhece nem um ser essencial em si subsistente, nem a possibilidade de um conhecimento das essências. Mais tarde, Husserl elaborou uma teoria que o leva a abeirar-se do neokantismo. Mas a escola, em seu conjunto, não o seguiu nesse caminho. Tanto a fenomenologia como a teoria do objeto têm grande parte no desenvolvimento do novo realismo (Moore), da filosofia da existência (Heidegger) e da metafísica (N. Hartmann).

Citemos, entre os fenomenólogos, Alexander Pfander (1870-1941), Oskar Becker (1889-1964), Roman Ingarden (1893-1970), H. Conrad-Martius, Moritz Geiger (1880-1937), Edith Stein (1891-1942), que entrou na Ordem das Carmelitas e morreu num campo de concentração nazista, e Adolph Reinach (1883-1916). Entre os fenomenólogos que atuam em França, importa mencionar, sobretudo, A. Koyré e E. Levinas. A América possui em Marvin Farber um dos mais eminentes representantes e propagandistas da fenomenologia. Contudo, nenhum se pode comparar a Max Scheler (1874-1928), que é o pensador mais original e mais influente do grupo, a par de Husserl.

Cabe salientar que a obra principal de R. Ingarden, A luta pela existência do mundo (até ao presente dois volumes, 1946-48), é uma das mais importantes publicações filosóficas da atualidade. Infelizmente não podemos apresentá-la aqui, nem mesmo incluí-la, sem mais, na filosofia europeia contemporânea, porque só está escrita em polonês, língua inacessível à maior parte dos filósofos europeus. Citamo-la aqui unicamente em sinal de protesto contra o costume deplorável, mas muito espalhado, de publicar trabalhos estritamente filosóficos Cem idiomas nacionais somente acessíveis a um círculo mais ou menos Ilimitado de leitores, circunstância que se agrava no caso de línguas como o finlandês, o polonês e o holandês. Deveria tomar-se a decisão de publicar todas as obras desta espécie numa só língua, que, na situação atual, seria, de preferência, o inglês. Um estudo sério da filosofia pressupõe, aliás, o conhecimento do grego e do latim; se acrescentarmos a estas duas as três principais línguas europeias, temos um total de cinco línguas que os filósofos devem aprender, e não vemos razão pela qual esta lista não deva continuar ad infinitum. [Bochenski]