Além do ente possível e atual há outras divisões do ente.
Segundo Duns Scot, pode-se primariamente fazer uma distinção do ente fora da alma (ens extra anima) e do ente na alma (ens in anima). Ou seja: o ente subsistente em nós, noético, portanto, e o ente subsistente fora de nós, o ente extra mentis.
Este ente pode ser subdividido em ens in actum et in potentiam (em ente em ato e ente em potência), da essência e da existência.
O ens extra anima, é o ens reale, enquanto o ens in animam é o ens rationis, o ente de razão. O ente de razão tem seu ser no intelecto, portanto sua subsistência é em outro e de outro, inaliedade e abaliedade (de in, em, e alius, outro e de ab, de), enquanto o ens reale tem sua entidade fora da consideração do intelecto. “Ens rationis est sola relatio rationis”, o ente de razão é somente uma relação da razão.
O ente pode ser ainda subdividido em ente infinitum e finitum, divididos em 10 categorias, segundo a classificação aristotélica.
O ens infinitum é o ente incriado, ou o ente em si mesmo, ente por essência; e, finito, o ente criado, o ente per participationem, o ens ab alio.
Chamava Aristóteles de categoria (do verbo kategorein — v. kategoriai —, que significa atribuir) o predicado da proposição. Posteriormente, empregou este termo para apontar apenas os predicados que se podiam atribuir ao ser e aos seres. A palavra latina correspondente a kategorein é praedicare, da qual os escolásticos tiraram a palavra predicamento, que se tornou sinônima de categoria.
Desta forma, categoria ou predicamento tem a acepção de indicar as maneiras de ser do ser.
Os conceitos transcendentais, que estudamos no artigo anterior, são aquelas determinações primordiais que podemos predicar de qualquer ser. De um ser, do qual ainda não conhecemos sua quididade, e, portanto, ainda não podemos conceituá-lo, sabemos, de antemão, que é uma entidade; uma unidade (segundo a classificação já apresentada), que é um bem (tem um valor), que é alguma coisa, que é em si verdadeiro (mesmo se é um ente ficcional, pois é ficcionalmente verdadeiro), que tem relações (sem que implique ser relativo, como veremos ao tratar das relações).
Esses predicamentos, que podemos apontar antes do conhecimento quididativo de um ente qualquer, são chamados conceitos transcendentais (supra-categoriais).
Acima desses conceitos está o ser que, na realidade, não é um gênero, mas dele participam as categorias, que são modos genéricos de ser.
Dizia Aristóteles (no Organon) que as palavras não podem exprimir mais que dez espécies de coisas, concluindo, daí, que há, portanto, dez espécies de coisas, dez gêneros do ser, dez pontos de referência dos quais se pode visualizar toda a realidade.
E como esses dez pontos abrangem os entes, são eles atributos universais ou comuns.
A classificação aristotélica teve grande influência no pensamento escolástico e ainda hoje é usada por pensadores que seguem, predominantemente, a sua linha filosófica. [MFS]