Podem-se pensar, em relação à maior ou menor riqueza de comunicação, dois níveis distintos. O primeiro seria aquele que através de uma teoria da comunicação procurasse caracterizar como se dá este fenômeno. Ver-se-ia que a comunicação no homem é bastante definida mas que não pode ser limitada ao sistema de comunicação tal como é conceituado fisicamente, já que tanto o emissor e o receptor principais para o homem são o próprio homem. A exigência do outro não tem similar entre os animais. Um homem afastado do convívio dos seus perde a linguagem verbal (conforme aconteceu efetivamente com o Robinson Crusoé que inspirou Defoe), sintoma empírico da perda da cadeia do significante. Nenhum exercício empírico pode retornar o homem à sua norma em relação ao seu grupo cultural, desde que ele sofra uma desestruturação ou não chegue a ser estruturado. Isto pôde ser observado no caso das chamadas “crianças selvagens”.
O exame das necessidades e atividades humanas, que é feito através da mediação teórica, é vivido imediatamente pelos sujeitos que participam da cadeia do significante (e é este o segundo nível). Aos sujeitos parece-lhes que são sua causa criadora. Os valores, juízos e costumes que o indivíduo aprendeu e apreendeu numa dada cultura manifestam-se a ele como fonte de sua verdade e atividade. Os fatos que nela se passam se colocam como constitutivos e fundamentais de sua perspectiva e, através dela, da dos outros. Daí o exame individual, subjetivo, ficar limitado a uma única faceta: a dos fatos acontecidos e resolvidos ideologicamente, fatos estes que justificarão teoricamente os acontecimentos. Neste nível imediato o juízo a respeito da riqueza ou pobreza da comunicação é sustentado subjetivamente, tendo como referência principal as noções de importância e utilidade social. Tome-se, por exemplo, o programa “Show sem limites”, onde se fazem perguntas relativas à vida de celebridades. Um menino, por exemplo, responde sobre a vida de Santos Dumont: qual a marca de seu primeiro automóvel, o nome de seu primeiro balão, a data da morte de seu pai etc. O público considera este programa como “cultural”, ou seja, o que traduz uma comunicação qualitativamente rica. Mas a análise mostra que não há “cultura” aí, e sim apenas exploração emocional em torno das possibilidades de uma memória não criadora. Com efeito, a Gestalt já demonstrou que a inteligência é apreensão de relações e poder-se-ia mostrar como “ter cultura” significa apreender formas, relações e não simplesmente mimetizar livros. A noção empírica de “ter cultura” equivale a ter um nível mais rico de informação cultural. Neste quadro os programas que apenas pretendem propiciar entretenimento são considerados de comunicação pobre. Esta confusão entre conhecimentos e informação cultural é inaceitável. Os programas do Chacrinha não oferecem informações culturais estratificadas (ver adiante como se estratifica a cultura e mais elaboradamente no verbete ideologia) mas são um lugar onde a comunicação é a mais rica possível. O conjunto de linguagens gestuais, mímicas, costumes, o piano visual, as relações entre ele, os candidatos, as bailarinas, o público, os cantores convidados, constituem um espetáculo que propicia um real acréscimo de informação. No nível teórico o problema não é de fácil postulação. Falar de empobrecimento significa afirmar afastamentos em relação a um certo optimum considerado como norma. Ora, não se pode postular um optimum em relação ao comportamento de uma sociedade como um todo. As diversas classes sociais, bem como as classes profissionais e etárias, têm necessidade que não podem ser homogeneizadas. É evidente que as metas de desenvolvimento do potencial de um sujeito da classe operária serão muito menos exigentes que as de um sujeito da burguesia. O optimum só poderia ser postulado da perspectiva mais globalizante, isto é, político–econômica, e assim mesmo em função de uma hierarquia de “coisas” a serem alcançadas (em relação a um “desenvolvimento” que também ]á teria um modelo realizado) . A situação dos sujeitos diante destas metas, isto é, sua posição na estrutura social, serão as referências para a compreensão de uma norma da comunicação: não há referências absolutas já que a ética não é criadora, mas produto. As metas a serem alcançadas, a hierarquização valorial dependem do recorte que a classe dominante faz na sociedade como um todo.
Nas chamadas sociedades industriais os analistas costumam falar de maior ou menor comunicação sem se perguntar a respeito do que é comunicado. Poder-se-ia mostrar que nestas sociedades a meta principal é criar consumidores (ver indústria cultural) e que não há análise de quantidade de informação cultural que não dependa da análise da estrutura de produção. Por outro lado, uma análise dos conteúdos comunicados sem a análise do meio que os conduz é insuficiente. Já se pôde provar (cf. tradução) que não há passagens biunívocas de uma linguagem à outra. A leitura de uma peça de Shakespeare é completamente distinta de um filme baseado nesta mesma leitura. E isto independe da estrutura de produção onde se dá.
Entretanto, pode-se dar uma referência maior do que é uma comunicação empobrecida (ou enriquecida) se se aceita que a comunicação mais adequada (entendida como optimum) é aquela que se aproxima da estrutura do conhecimento. A comunicação será tanto mais rica quanto mais conexões tiver com a explicitação teórica do modo de produção social. Mas mesmo isto é insuficiente, visto que o vivido é a matéria prima para a elaboração teórica e se ambos trabalhassem em circuito fechado a ciência deixaria de existir como tal. Já no plano da teoria matemática da informação a questão é bem mais simples, o empobrecimento da comunicação (ou informação) deve ser medido através da noção de ruído. [Chaim Samuel Katz]