(gr. oikonomia; lat. oeconomia; in. Economy; fr. Economie; al. Oekonomie, ital. Economia).
Ordem ou regularidade de uma totalidade qualquer, seja esta uma casa, uma cidade, um Estado ou o mundo. No Novo Testamento essa palavra, às vezes, é usada para indicar o plano providencial (S. Paulo, Eph., I, 10). Orígenes chamou de “economia” a encarnação do Verbo, pois ela restituiu providencialmente ao mundo a ordem e a sua verdadeira regra (Contra Cels., 11, 9).
Mas, ao menos no que diz respeito às totalidades finitas, a melhor ordem é a que produz o resultado máximo com o esforço mínimo, de tal modo que mesmo a lei do menor esforço foi entendida, na história da filosofia, como “princípio da economia”. Esse princípio, como regra metodológica, não deve ser confundido com o princípio da ação mínima, que, num primeiro momento, é um princípio físico e metafísico e, num segundo momento, uma lei da mecânica. Pode-se dizer que o princípio da economia foi formulado pela primeira vez por Ockham, no séc. XIV, com a fórmula “Pluralitas non estponenda sine necessitate” e “Frustra fit per plura quod potest fieri perpauciora”’. Ockham utilizou constantemente esse princípio para eliminar muitas das entidades admitidas pela escolástica tradicional: p. ex., a specie, sensível ou inteligível, como intermediária do conhecimento (In Sent, II, q. 14, P). Mais tarde, com o nome de navalha de Ockham, esse princípio foi expresso com a fórmula “Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem”, forma que se encontra a partir da Logica vetus et nova (1654) de Clauberg. Kant refere-se a esse princípio como expressão da exigência de buscar na natureza (ou melhor, de realizar através de seu conhecimento) a máxima unidade e simplicidade possíveis. E diz.- “A existência dessa unidade na natureza é pressuposta pelos filósofos na conhecida regra da escola, segundo a qual os princípios não devem ser multiplicados sem necessidade. Com isso se diz que a natureza das coisas dá azo à racionalidade e que a aparente diversidade infinita não deve impedir-nos de supor que, por trás dela, haja uma unidade das propriedades fundamentais, da qual pode ser extraída a multiplicidade por meio de múltiplas determinações” (Crít. R. Pura, Dialética, livro II, seç. III, Do uso regulativo das ideias; Crít. do Juízo, Intr., I).
A filosofia contemporânea insistiu e ainda hoje insiste muito na importância dessa regra metodológica. Para isso contribuíram sobretudo Avenarius (Die Phil. als Denken der Welt gemäss den Princip des kleinsten Kraftmasses, 1876) e Mach, que disse: “Os métodos pelos quais se constitui o saber são de natureza econômica” (Die Principien der Würmenlehre, 2-ed., 1900, p. 39). Segundo Mach, é esse princípio que preside, p. ex., à formação dos conceitos, que nascem da situação de desequilíbrio entre o número» das reações biologicamente importantes, que é bastante limitado, e a variedade, quase ilimitada, das coisas existentes. Permitindo classificar adequadamente essa variedade, o conceito permite enfrentá-la do modo mais econômico, ou seja, com o mínimo esforço (Erkenntniss und Irrtum, 1905, cap. 8). Essa exigência ainda hoje é considerada válida na construção das hipóteses ou teorias científicas (v. teoria). [Abbagnano]
É o mesmo conformismo, a suposição de que os homens se comportam ao invés de agir em relação aos demais, que está na base da moderna ciência da economia, cujo nascimento coincidiu com o surgimento da sociedade e que, juntamente com seu principal instrumento técnico, a estatística, se tornou a ciência social por excelência. A economia – que até a era moderna constituía uma parte não muito importante da ética e da política, e que se baseia na premissa de que os homens agem em relação às suas atividades econômicas como agem em relação a tudo mais – só veio adquirir caráter científico quando os homens tornaram-se seres sociais e passaram a seguir unanimemente certos padrões de comportamento, de sorte que aqueles que não seguissem as regras podiam ser considerados associais ou anormais.
NOTA: “A concepção da economia política primeiramente como uma ‘ciência’ remonta a Adam Smith”, e era desconhecida não só da Antiguidade e da Idade Média, mas também da doutrina canônica, a primeira “doutrina econômica completa” que “diferia da economia moderna por ser uma ‘arte’ e não uma ‘ciência’” (W. J. Ashley, An introduction to English economic history and theory, p. 379 ss.). A economia clássica pressupunha que o homem, na medida em que é um ser ativo, age exclusivamente por interesse próprio e é movido por um único desejo, o desejo de aquisição. A introdução, por Adam Smith, de uma “mão invisível para promover um fim que não fazia parte da intenção [de ninguém]” demonstra que mesmo esse mínimo de ação, com a sua motivação uniforme, contém ainda demasiada iniciativa imprevisível para o estabelecimento de uma ciência. Marx desenvolveu a economia clássica mais ainda ao substituir os interesses individuais e pessoais por interesses de grupo ou de classe, e ao reduzir esses interesses de classe a duas classes principais, de capitalistas e operários, de sorte que só lhe restou um conflito em que a economia clássica enxergava uma multidão de conflitos contraditórios. O motivo pelo qual o sistema econômico de Marx é mais consistente e coerente, e, portanto, aparentemente muito mais “científico” que os de seus predecessores, reside primordialmente na construção do “homem socializado”, que é um ser ainda menos ativo que o “homem econômico” da economia liberal. [ArendtCH, 6]