divisões da filosofia

Então poderemos tirar desta pequena verificação, a que chegamos na nossa primeira exploração panorâmica, uma divisão da filosofia que nos sirva de guia para nossas viagens sucessivas.

Desde já dizemos que a filosofia é o estudo de tudo aquilo que ó objeto de conhecimento universal e totalitário. Pois bem: de conformidade com isto, a filosofia poderá dividir-se em dois grandes capítulos, em duas grandes ciências: um primeiro capítulo ou zona que chamaremos ontologia, na qual a filosofia será o estudo dos objetos, todos os objetos, qualquer objeto, seja qual for; e outro segundo capítulo no qual a filosofia será o estudo do conhecimento dos objetos. De que conhecimento? De todo o conhecimento, de qualquer conhecimento.

Teremos assim uma divisão da filosofia em duas partes: primeiro, ontologia ou teoria dos objetos conhecidos e cognoscíveis; segundo, a gnosiologia (palavra grega que vem de gnósis, que significa sapiência, saber), que será o estudo do conhecimento dos objetos. Distinguindo entre o objeto e o conhecimento dele, teremos estes dois grandes capítulos da filosofia.

Dir-se-me-á: vimos antes algo sobre disciplinas filosóficas que agora de repente estão silenciadas. Falamos de ética, de estética, de filosofia da religião, de psicologia, de sociologia. Será que essas disciplinas saíram já do tronco da filosofia? Por que não as mencionamos? Com efeito, dentro do tronco da filosofia ocupam-se ainda os filósofos atuais dessas disciplinas; mas comparadas com as duas fundamentais que acabo de indicar — ontologia e gnosiologia — advertimos já que nessas disciplinas existe uma certa tendência a particularizar o objeto.

A ética não trata de todo o objeto cogitável em geral, mas somente da ação humana ou dos valores éticos.

A estética não trata de todo o objeto cogitável em geral. Trata da atividade produtora da arte, da beleza e dos valores estéticos.

A filosofia da religião também circunscreve o seu objeto. A psicologia e a sociologia, mais ainda.

Por isso é que estas ciências estão já saindo da filosofia. Por que não saíram ainda da filosofia? Porque os objetos a que se referem são objetos que não são fáceis de recortar dentro do âmbito da realidade. Não são fáceis de recortar porque estão intimamente enlaçados com o que os objetos são em geral e totalitàriamente; e estando enlaçados com esses objetos, as soluções que se apresentam aos problemas propriamente filosóficos da ontologia e da gnosiologia repercutem nessa lucubrações que chamamos ética, estética, filosofia da religião, psicologia e sociologia. E como repercutem nelas, a estrutura dessas disciplinas depende intimamente da posição que adotemos com respeito aos grandes problemas fundamentais da totalidade do ser. Por isso estão ainda incluídas na filosofia; mas já estão na periferia.

Já se discute, repito, se a psicologia é ou não uma disciplina filosófica. Já se discute se o é a sociologia; em pouco se discutirá se a ética o é, e amanhã… ou melhor, já hoje, há estetas que discutem se a estética é filosofia, e pretendem convertê-la numa teoria da arte independente da filosofia. [Morente]