destruição

Um homem recusa-se a habitar em casa que não é a sua, a viver em mundo que não é o seu? A maneira mais fácil de pensar a Recusa é imaginar que ele não aceita ou não quer ter como seu senão o que fez por suas próprias mãos. Nenhum reparo nos mereceria o fascínio da operosidade construtiva se por despercebido passasse que necessário antecedente de todo o fazer é um desfazer. Não sei de coisa que se faça sem que outra ou outras coisas se desfaçam, não sei de construção que não suceda à destruição. É certo que o presente se vinga do passado, como o futuro se vingará do presente: o presente, destruindo o que no passado se fez, e o futuro, destruindo o que no presente se faz. Mas há um ponto fenomenologicamente bem determinado, no circuito em que o futuro do futuro se reúne ao passado do passado: é o que representa uma destruição do que o homem não fez nem poderia fazer — e essa atinge as dimensões do sacrilégio. Efetivamente, o primeiro episódio da Recusa, primeiro em qualquer dos dramas, cujos argumentos são variantes do tema da «hominização», consiste em o homem verificar que tão mal à vontade se sente na Natureza quanto Adão se sentira no Paraíso. O Exílio Adâmico é mito que corre paralelamente à história, embora Paraíso e Natureza não sejam o mesmo, já que esta não volta sempre para o homem a sua face benéfica. Adão pôde sair do Paraíso, mas o homem não pode exilar-se da Natureza. Destruí-la é a precaríssima solução do insolúvel, pois, consumada, lhe custará a vida. Mas Natureza não é o seu mundo… [EudoroMito:28]