decisão eletiva

Wahlentscheidung

A influência que o conhecimento, enquanto médium dos motivos, tem não só sobre a vontade mas também sobre o seu aparecimento em ações fundamenta também a diferença capital entre o agir do homem e o do animal, na medida em que o modo de conhecimentp de ambos é diverso. De fato, o animal possui apenas representações intuitivas, o homem, devido à [384] razão, ainda possui representações abstratas, conceitos. Embora animal e homem sejam determinados [I 351] por motivos com igual necessidade, o homem, entretanto, tem a vantagem de uma DECISÃO ELETIVA. Esta amiúde foi vista como uma liberdade da vontade em atos individuais; contudo, é apenas a possibilidade de um conflito duradouro entre vários motivos, até que o mais forte determine com necessidade a vontade. Para isso os motivos têm de ter assumido a forma de pensamentos abstratos, pois só por estes é possível uma deliberação propriamente dita, isto é, uma avaliação de fundamentos opostos para o agir. No caso do animal, a escolha só pode se dar entre motivos presentes intuitivamente; por conta disso, está limitada à esfera estreita de sua apreensão atual e intuitiva. Por conseguinte, a necessidade na determinação da vontade pelo motivo, igual àquela no efeito pela causa, só pode ser exibida intuitiva e imediatamente nos animais, porque aqui o espectador tem os motivos tão imediatamente diante dos olhos quanto o seu efeito, enquanto nos homens os motivos quase sempre são representações abstratas, inacessíveis ao espectador, sendo que até mesmo ao agente é ocultada a necessidade do seu efeito por detrás do conflito delas. Apenas in abstracto podem várias representações se encontrar na consciência uma ao lado da outra, como juízos e séries de conclusão, e, então, fazer efeito reciprocamente, livres de qualquer determinação temporal, até que a mais forte domine as restantes e determine a vontade. Eis aí a perfeita DECISÃO ELETIVA, ou capacidade de deliberação, uma vantagem do homem em face dos animais, devido à qual se lhe atribuiu a liberdade da vontade, na suposição de que seu querer era um mero resultado das operações do intelecto, isento de um impulso determinado a lhe servir de base; quando, em verdade, a motivação só faz efeito se fundamentada, e sob a pressuposição de um impulso determinado, que no seu caso é individual, ou seja, um caráter. Uma exposição detalhada dessa capacidade de deliberação e da diferença entre o arbítrio animal e humano por ela produzidos se encontra no meu Os dois problemas fundamentais da ética (I.ed., p.3 5 e ss.), ao qual portanto remeto aqui o leitor. Ademais, semelhante capacidade de deliberação no homem também pertence às coisas [I 352] que tornam a sua existência tão mais atormentada que a do animal; pois em geral nossas grandes dores não se situam no presente, como representações intuitivas [385] ou sentimento imediato, mas na razão, como conceitos abstratos, pensamentos atormentadores, dos quais os animais estão completamente livres, pois vivem apenas no presente, portanto num estado destituído de preocupação e digno de inveja. [Schopenhauer, MVR1:384-386]