Na tradução em português da obra maior de Heidegger, Ser e Tempo, é dada a seguinte explicação para a tradução de Dasein, por “pre-sença”.
«Pre-sença não é sinônimo de existência e nem de homem. A palavra Dasein é comumente traduzida por existência. Em Ser e Tempo, traduz-se, em geral, para as línguas neolatinas pela expressão “ser-aí”, être-là, esser-ci etc. Optamos pela tradução de pre-sença pelos seguintes motivos: 1) para que não se fique aprisionado às implicações do binômio metafísico essência–existência; 2) para superar o imobilismo de uma localização estática que o “ser ai” poderia sugerir. O “pre” remete ao movimento de aproximação, constitutivo da dinâmica do ser, através das localizações; 3) para evitar um desvio de interpretação que o “ex” de “existência” suscitaria caso permaneça no sentido metafísico de exteriorização, atualização, realização, objetivação e operacionalização de uma essência. O “ex” firma uma exterioridade, mas interior e exterior fundam-se na estruturação da pre-sença e não o contrário; 4) pre-sença não é sinônimo nem de homem, nem de ser humano, nem de humanidade, embora conserve uma relação estrutural. Evoca o processo de constituição ontológica de homem, ser humano e humanidade. É na pre-sença que o homem constrói o seu modo de ser, a sua existência, a sua história etc. (cf. entrevista de Heidegger ao Der Spiegel, Rev. Tempo Brasileiro, n. 50, julho/set. 1977).
Quanto à formação do termo pre-sença, observar: “pre” corresponde a “Da” e sença, como forma derivada de “esse”, corresponde a “sein”. Quanto à origem latina de pre-sença, cf. a expressão de Cícero: dii consentes = os deuses conjuntamente, isto é, em assembleia, presentes, decidem.» [Ser e Tempo, trad. Márcia Cavalcante]
Entretanto muitos tradutores de Heidegger preferem manter o termo alemão Dasein, por entenderem que porta um sentido ímpar no pensamento de Heidegger, e assim deve ser preservado na sua língua original.
Mark Twain queixou-se do fato de que certas palavras alemães parecem significar tudo. Uma destas palavras é da. Ela significa ” lá” (” lá vão eles”) e ” aí’ (” aí vêm eles”), assim como ” então”,” desde” etc. Como prefixo de sein,” ser”, ela forma dasein, “ser aí, presente, disponível, existir”. No século XVII, o infinitivo era substantivado como (das) Dasein, originalmente no sentido de “presença”. No século XVIII, Dasein passou a ser usada pelos filósofos como uma alternativa para a palavra derivada do latim Existenz (” a existência de Deus”), e os poetas a utilizavam no sentido de “vida”. A “luta pela sobrevivência” de Darwin tornou-se em alemão der Kampf ums Dasein. Coloquialmente, é utilizada para o ser ou a vida das pessoas. (Dasein em Heidegger é bastante distinto de Dass-sein, “ser-isto” (GA26, 183, 228s).) [DH]