É o assédio repentino dos Deuses, numina e demais seres transumanos que Frobenius denomina “ordem cósmica” e que põem em movimento a cena cultual-cultural. O jogo é um jogo suscitado, um jogo em relação a uma transcendência. A cultura nasce do plexo cultual e o culto, por sua vez, nada mais é que uma representação do mito ou do conteúdo religioso determinante. O culto é desfechado pela proximidade e incidência do Divino e constitui uma representação de cenas e incidentes sobre-humanos ocorridos in illo tempore, ou, ainda, é a superação do tempo profano e a instauração de um tempo da criação ou tempo das origens. Em relação a esse tempo arquetípico determinado pela proximidade dos Deuses, toda ação humana cultural ou profana é pura reprodução, representação ou mimese. “O que denominamos cultura” – diz Walter Otto em seu belo livro Dionysos – “é função, em sua configuração total, de um Mito dominante, que está inseparavelmente unido ao Mito do Divino. Com a criação desse Mito constitui-se cultura e o povo; antes, não existe de modo algum”. Esses conceitos concordam somente em parte com as doutrinas de Frobenius sobre a origem da cultura e sobre a causalidade única do arrebatamento pela Realidade ou por seus aspectos. Seriam, segundo esse último, os aspectos do mundo, as cenas grandiosas da realidade, a ordem cósmica, que, dominando e invadindo a mente e o coração humanos, aí provocariam o aparecimento de “ondas” demoníaco-plasmadoras. [VFSTM:143]