conversão

Dos muitos sentidos em que se usa a noção de conversão, em filosofia, vamos destacar especialmente dois: o lógico e o metafísico.

1: Na lógica clássica, a conversão é um modo de inversão de proposições, de tal maneira que, sem alterar a verdade de uma proposição dada “s é p”, possa colocar-se s em lugar de p ou p no lugar de s. admitiram-se a este respeito três modos principais de conversão. a: a conversão simples, na qual sujeito e predicado conservam a quantidade ou a extensão; b: a conversão por acidente, na qual se conserva apenas a extensão; c: a conversão por contraposição, na qual sujeito e predicado se convertem por meio das anteposições da negativa a cada um dos termos invertidos. Os lógicos estabeleceram várias regras para a conversão, baseadas na conversão de um termo, enquanto sujeito, com a mesma extensão que esse termo tinha como predicado. Quando não se cumpre esta condição, surgem sofismas. Assim, por exemplo, é admissível a conversão de “nenhum animal é racional” em “nenhum ser racional é animal”, mas não o é a conversão de “todos os homens bondosos falam com franqueza” em “todos os que falam com franqueza são bondosos”.

2: em sentido metafísico, pode entender-se a noção de conversão como contraposta à noção de processo; é o sentido mais corrente entre os neoplatônicos, e, particularmente, em Plotino. Segundo Plotino, o Uno não é o único, porque funda precisamente a diversidade, aquilo que dele emana como podem emanar do real a sombra e o reflexo, os seres cuja forma de existência não é eterna permanência no alto, recolhendo no seu ser toda a existência, mas a queda, distensão da primitiva, perfeita e originária tensão da realidade suma. Pois o Sumo vive, por assim dizer, em absoluta e completa tensão, recolhendo com ele a restante realidade. O duplo movimento de processão e conversão, de desenvolvimento, é a consequência dessa posição de toda a realidade a partir do momento em que se apresenta a Unidade suprema e, no pólo oposto, o Nada: a perfeição gera, pela sua própria natureza, o semelhante, a cópia e o reflexo, que subsistem graças ao fato de estarem contemplativamente voltados para o seu modelo originário. Noutro sentido, usa-se em metafísica a noção de conversão ao referir-se à convertibilidade mútua dos transcendentes. (Ferrater)


(lat. Convenio; in. Conversion; fr. Conversion; al. Umkebrueng; it. Conversioné).

Em Aristóteles (An. pr., 1,1, 2) e nos tratados posteriores de Lógica clássica (aristotélica), é a operação com a qual de um enunciado se extrai outro (considerado equivalente, o que é muito problemático), mediante a troca das respectivas posições dos termos (sujeito e predicado). Naturalmente, nem sempre isso é possível, e às vezes só pode ser feito com a introdução de uma mudança no quantificador (“tudo” e “alguns”). Mais precisamente: a proposição universal afirmativa (p. ex., “todos os homens são mortais”) converte-se, per accidens, em proposição particular afirmativa (“alguns mortais são homens”); a particular afirmativa e a universal negativa convertem-se simpliciter, ou seja, mediante troca simples de termos; a particular negativa não pode ser convertida. (Abbagnano)


Dos muitos sentidos em que se usa a noção de conversão, em filosofia, vamos destacar especialmente dois: o lógico e o metafísico. 1: Na lógica clássica, a conversão é um modo de inversão de proposições, de tal maneira que, sem alterar a verdade de uma proposição dada “s é p”, possa colocar-se s em lugar de p ou p no lugar de s. admitiram-se a este respeito três modos principais de conversão. a: a conversão simples, na qual sujeito e predicado conservam a quantidade ou a extensão; b: a conversão por acidente, na qual se conserva apenas a extensão; c: a conversão por contraposição, na qual sujeito e predicado se convertem por meio das anteposições da negativa a cada um dos termos invertidos. Os lógicos estabeleceram várias regras para a conversão, baseadas na conversão de um termo, enquanto sujeito, com a mesma extensão que esse termo tinha como predicado. Quando não se cumpre esta condição, surgem sofismas. Assim, por exemplo, é admissível a conversão de “nenhum animal é racional” em “nenhum ser racional é animal”, mas não o é a conversão de “todos os homens bondosos falam com franqueza” em “todos os que falam com franqueza são bondosos”. 2: em sentido metafísico, pode entender-se a noção de conversão como contraposta à noção de processo; é o sentido mais corrente entre os neoplatônicos, e, particularmente, em Plotino. Segundo Plotino, o Uno não é o único, porque funda precisamente a diversidade, aquilo que dele emana como podem emanar do real a sombra e o reflexo, os seres cuja forma de existência não é eterna permanência no alto, recolhendo no seu ser toda a existência, mas a queda, distensão da primitiva, perfeita e originária tensão da realidade suma. Pois o Sumo vive, por assim dizer, em absoluta e completa tensão, recolhendo com ele a restante realidade. O duplo movimento de processão e conversão, de desenvolvimento, é a consequência dessa posição de toda a realidade a partir do momento em que se apresenta a Unidade suprema e, no polo oposto, o Nada: a perfeição gera, pela sua própria natureza, o semelhante, a cópia e o reflexo, que subsistem graças ao fato de estarem contemplativamente voltados para o seu modelo originário. Noutro sentido, usa-se em metafísica a noção de conversão ao referir-se à convertibilidade mútua dos transcendentes. (DFW)


— Conversão

VIDE: EPISTREPHO; MITO DA CAVERNA

Ananda Coomaraswamy: RETORNO

Jean Canteins: MYSTÉRES E SYMBOLES CHRISTIQUES

No NT frequentemente é questão o voltar-se de Jesus Cristo ou de seus discípulos. O duplo «voltar-se» de Maria Madalena é um caso que merece tratamento aparte. Os casos em que Jesus se volta para uma pessoa anônima ou para a multidão que o segue, ou para seus discípulos, não são considerados nesta análise.

Por sua frequência essas «reviravoltas» não são no entanto indiferentes e se o texto quis mencioná-las, é que correspondem a um comportamento característico e que faz parte da mensagem. No entanto, tudo que se pode dizer a seu respeito é que, quando o Cristo se volta para um desconhecido, é frequentemente para abençoá-lo e para um discípulos para admoestá-lo.

Restam assim as passagens suficientemente significativas para permitir um ensaio de exegese. Agrupa-se assim um conjunto de casos onde o «voltar-se» é concebido como um arrependimento, uma conversão:
-*Mt 13,15: Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardamente, e fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure.
-*Mc 4,12: para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados.
-*Lc 17,4: Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; tu lhe perdoarás.
-*Lc 22,32: mas eu roguei por ti, para que a tua não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.
-*Jo 12,40: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.

Ora, constata-se que Mt 13,15 e Jo 12,40 são idênticos: reproduzem Isaías 6,10, ou dele se inspiram, o que nos permite conhecer que verbo hebreu a Septuaginta traduziu por epistrepho. Trata-se de shaba — raiz ShVB, de onde derivou teshova: resposta, arrependimento — que se encontra nas duas formulações paralelas onde o sentido de retorno se superpõe àquele de conversão, a ponto de velar semanticamente: 1) em Zacarias 1,3; 2) em Lamentações 5,21, onde shaba é traduzido igualmente por epistrepho.

Esta equivalência é, no entanto, frágil e deve ser atenuada. Em Atos III, 19: « Arrependei-vos e convertei-vos » (metanoesate oun kai epistrepsate) pode-se entender os dois verbos como sinônimos ou distinguir duas fases de conversão; dois graus de aproximação da realização cristã: arrependimento e conversão.

O emprego do verbo strepho e de seus compostos epi- e meta-strepho, em um sentido teológico não se fez por geração espontânea; no sentido físico os neoplatônicos já tinham superposto um sentido moral conforme a suas preocupações espirituais e é talvez forte desta acepção congruente com a sua que os evangelistas e a Septuaginta o adotaram para designar um estado de alma definível por um «retorno» menos «sobre si» ou «para si» que em direção ao Princípio, em direção a Deus, alcançando uma reviravolta completa dos dados, de tal sorte que o mundo seja doravante visto ao contrário, de ponta cabeça. Um tal estado podendo comportar diversos graus de intensidade, nada não se opõe a que a reviravolta se identifique a um «segundo nascimento, no sentido iniciático da expressão.

Escoto Eriugena nos adverte na De divisione naturae que todo retorno sobre si ou para si, e não para Deus, viciaria a conversão, e logo a conversão, reproduzindo o pecado original do qual resultou a queda, por um afastamento ilícito para o humano em detrimento do supra-humano.




Dos muitos sentidos em que se usa a noção de conversão, em filosofia, vamos destacar especialmente dois: o lógico e o metafísico. 1: Na lógica clássica, a conversão é um modo de inversão de proposições, de tal maneira que, sem alterar a verdade de uma proposição dada “s é p”, possa colocar-se s em lugar de p ou p no lugar de s. admitiram-se a este respeito três modos principais de conversão. a: a conversão simples, na qual sujeito e predicado conservam a quantidade ou a extensão; b: a conversão por acidente, na qual se conserva apenas a extensão; c: a conversão por contraposição, na qual sujeito e predicado se convertem por meio das anteposições da negativa a cada um dos termos invertidos. Os lógicos estabeleceram várias regras para a conversão, baseadas na conversão de um termo, enquanto sujeito, com a mesma extensão que esse termo tinha como predicado. Quando não se cumpre esta condição, surgem sofismas. Assim, por exemplo, é admissível a conversão de “nenhum animal é racional” em “nenhum ser racional é animal”, mas não o é a conversão de “todos os homens bondosos falam com franqueza” em “todos os que falam com franqueza são bondosos”. 2: em sentido metafísico, pode entender-se a noção de conversão como contraposta à noção de processo; é o sentido mais corrente entre os neoplatônicos, e, particularmente, em Plotino. Segundo Plotino, o Uno não é o único, porque funda precisamente a diversidade, aquilo que dele emana como podem emanar do real a sombra e o reflexo, os seres cuja forma de existência não é eterna permanência no alto, recolhendo no seu ser toda a existência, mas a queda, distensão da primitiva, perfeita e originária tensão da realidade suma. Pois o Sumo vive, por assim dizer, em absoluta e completa tensão, recolhendo com ele a restante realidade. O duplo movimento de processão e conversão, de desenvolvimento, é a consequência dessa posição de toda a realidade a partir do momento em que se apresenta a Unidade suprema e, no polo oposto, o Nada: a perfeição gera, pela sua própria natureza, o semelhante, a cópia e o reflexo, que subsistem graças ao fato de estarem contemplativamente voltados para o seu modelo originário. Noutro sentido, usa-se em metafísica a noção de conversão ao referir-se à convertibilidade mútua dos transcendentes. (DFW)