conotação

Termos como “conotação” e “denotação” são dificilmente definíveis. Dados no interior de uma teoria, só ali se explicitam. Haveria, portanto, que elaborar também a teoria. Dá-se o fato que, conforme se insistiu na definição de todos os verbetes deste Dicionário, não há uma teoria da Comunicação unificada, ou uma obra base que pudesse servir de referência à problemática da Comunicação (como, por exemplo, a obra de Freud na psicanálise). Por isto devem-se situar estes dois termos dentro de teorizações maiores onde nem sempre eles aparecem em primeiro plano. Segundo um dicionário de linguística americano, pode-se definir conotação como “as ideias e associações vinculadas a uma palavra; as significações ou ideias que uma palavra sugere ou implica (também chamada significado intensional) e denotação como “os significados extensionais ou expressos de uma palavra ou termo”. Esta tese está amplamente explicitada na obra de Hayakawa. O significado extensional (ou denotação) remete a um objeto que pode ser indicado, referenciado. Enquanto “o significado intensional de uma palavra ou expressão é aquilo que nos é sugerido (conotado) pela nossa própria cabeça. Ora, uma tal definição leva Hayakawa — e qualquer pessoa que a aceite — a algumas conclusões: 1) — toda frase denotativa deve ser conotativa; 2) — nem toda frase conotativa é denotativa; 3) — uma frase como “Anjos velam meu sono à noite” é conotativa, sem ser denotativa, isto é, “ao dizermos que a frase não possui significado extensional (denotação), queremos simplesmente dizer que não podemos ver, tocar, fotografar ou mediante qualquer dispositivo científico, captar a presença dos anjos”. Conclui então que “argumentos da espécie intensional (conotação) bem se podem denominar ‘argumentos sem-sentido’, uma vez que eles se baseiam em enunciados para os quais não se podem reunir dados que façam sentidos”. 4) — ora, considerando denotação (ou argumentação extensional) como voltada para um objeto, o referente, e a conotação (ou argumentação intensional) como existente, apenas no sujeito, Hayakawa se contradirá, mostrando como só os significados intensionais (conotação) poderão dizer do que são os significados extensionais (denotação). Exatamente porque toma os dois termos dentro de uma dicotomia sujeitoobjeto já superada na filosofia definitivamente, desde a obra de Kant (ver, por exemplo, Husserl). Ele não quer discutir como se diz simbolicamente o mundo, mas qual a verdade deste mundo. Todas as posições similares são ideológicas pois confundem numa mesma teoria sua estrutura (pretensa) e as observações empíricas dos fatos.

Para Martinet, conotações (no plural) são “tudo o que no emprego de uma palavra não pertence à experiência de todos os utilizadores desta palavra na língua”. Cada pessoa aprende palavras com frases que não coincidem em todos. “E esta particularidade de aprendizagem das situações é seguramente uma das razões que explicam todas as referências que os poetas fizeram à infância, nas suas definições da poesia: levamos nossa pátria linguística e poética na sola de nossos sapatos infantis”. Daí a definição de que “a cultura de uma época são as conotações partilhadas”. Também esta explicação está fora de seu campo teórico, não é pertinente. (E isto independente da critica imediata que se poderia fazer a ela, que situa a fala no plano individual mas dependente de sua formatividade na cultura geral.)

Umberto Eco diz que “numa perspectiva semiológica, o problema do referente não tem nenhuma pertinência.” Aquilo que se definiu acima como problema filosófico da verdade, ele explicitará mostrando como podem existir símbolos que tenham referência (e não tenham referente) e um mesmo referente que seja simbolizado polissemicamente. “A presença do referente, sua ausência ou inexistência não incidem no estudo de um símbolo enquanto usado numa certa sociedade em relação a determinados códigos”. Porque já ensinava Saussure: “O signo linguístico não une uma coisa a um nome mas um conceito a uma imagem acústica. Esta última não é o som material, coisa puramente física, mas a marca psíquica deste som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; ela é sensorial e se nos acontece denominá-la “material” é somente neste sentido e por oposição ao outro termo da associação, o conceito geralmente mais abstrato”. Se esta definição não é levada em conta, volta-se ao “objetivismo” que implica sempre na dicotomia sujeito objeto, inadequada em qualquer de seus dois pólos. Como a falsa objetividade de Réznikov: “Se se isola a função do signo de qualquer manifestação externa do objeto e se se a transfere para outros objetos (fenômenos) ela conecta apenas convencionalmente com os objetos designados”. Então esta questão só pode ser resolvida — bem ou mal — no seu campo pertinente que é a Semiologia. [Chaim Katz – DCC]